Esopo nasceu no ano 620 a.C, na Grécia. Escritor e autor de dezenas de fábulas que atravessaram os séculos.
Numa delas, ele conta que um camponês e sua mulher tinham uma galinha. Mas uma galinha diferente, porque todo santo dia botava um ovo de ouro. A ambição os levou a uma decisão de consequências estrategicamente imperdoáveis: mataram a galinha supondo que dentro dela encontrariam uma grande quantidade de ovos. Sacrificado o animal, se deram conta de que havia apenas um ovo, o da produção diária da galinha.
Impossível não relacionar a sabedoria dessa fábula de 2.600 anos com o que temos visto em algumas empresas familiares que possuem galinhas que botam ovos de ouro.
Como isso acontece?
Essas empresas de gestão familiar de primeira geração ou gerações seguintes crescem, se expandem, ganham posições no mercado e vão botando ovos de ouro dia após dia.
Um belo dia, porém, alguém na gestão da empresa ou por orientação de algum consultor chega à ingênua conclusão de que é hora de “profissionalizar” a empresa para que ela salte vários patamares de mercado.
O que fazem, então?
Normalmente, a fórmula é sempre igual: substituem pessoas do negócio por pessoas de negócio. Assim como fizeram precipitados camponeses que abriram a barriga da galinha, movidos pela ambição de rápida multiplicação de riqueza.
Convenhamos, empresas familiares são movidas por algo maior do que os drivers habituais das empresas de capital aberto ou das sociedades onde as famílias não têm mais interferência na sua condução. Algo que as pessoas do negócio conhecem e têm no sangue muito mais do que qualquer pessoa de negócio. Trocar um pelo outro é sacrificar a galinha e os futuros ovos que ela botaria.
Organizações com gestão familiar integram muito bem duas forças complementares. A primeira é como uma força centrífuga, aquela que empurra a empresa para fora, em direção à conquista do mercado e dos resultados essenciais ao seu desenvolvimento. A segunda, no entanto, é muito mais intensa nas organizações familiares: a força centrípeta.
Ela tem um caráter nuclear e zela pela integração das convicções familiares, que têm conduzido a organização. Os churrascos, as comemorações, os encontros periódicos fora do ambiente corporativo envolvendo pais, mães, filhos, tios etc, têm um papel que as clássicas reuniões de board nunca serão capazes de exercer. Quantas vezes já não ouvimos frases como esta, na segunda-feira: “nós refletimos durante o almoço deste fim de semana e estamos decididos a…”
O êxito do negócio e a integração familiar fazem parte de um mesmo destino. O ambiente do negócio familiar pode, muitas vezes, não ser um paraíso. E para isso, há muitos remédios que podem corrigir o rumo da organização, para que ela continue a botar ovos de ouro. Simplista mesmo é substituir quem entende do negócio por quem entende de negócio.
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