SXSW: como a gente reimagina e recria futuros coletivos?

Painel de discussão no evento SXSW 2023. Painel de discussão no evento SXSW 2023.

O South by Southwest (SXSW) 2025 trouxe debates sobre os rumos que a tecnologia, as redes sociais e a sociedade podem tomar nos próximos anos. Em um cenário em que a inovação se entrelaça com a busca por um futuro mais conectado e equilibrado, temas como descentralização nas redes sociais, a epidemia de solidão e como imaginar um futuro melhor foram abordados. Confira os highlights de hoje! 

O Futuro das Redes Sociais – Jay Graber, CEO da Bluesky

Durante sua palestra no SXSW, Jay Graber, a CEO da Bluesky, compartilhou a visão da plataforma para o futuro das redes sociais, centrada em um modelo descentralizado que coloca o poder de volta nas mãos dos usuários.

Descentralização e Autonomia
Ao contrário das redes sociais tradicionais, que são centralizadas, a Bluesky funciona por meio de um protocolo aberto, permitindo que os usuários personalizem seus feeds, escolham níveis de moderação e até hospedem seus próprios dados. Esse modelo elimina o controle de uma única entidade sobre a plataforma, oferecendo uma alternativa mais democrática.

Moderação e Governança Comunitária
A Bluesky adota um sistema de moderação flexível, com múltiplos níveis que envolvem tanto o serviço nativo da plataforma quanto moderadores independentes. Os usuários podem configurar as regras de moderação de acordo com suas preferências, garantindo um equilíbrio entre a liberdade de expressão e a segurança online.

Modelo de Negócio Sustentável
Diferente das plataformas baseadas em publicidade invasiva, a Bluesky está desenvolvendo um modelo sustentável, baseado em assinaturas e serviços para desenvolvedores. Isso cria um ecossistema aberto no qual outros aplicativos podem ser construídos sobre a infraestrutura da Bluesky, mantendo a plataforma alinhada com os interesses dos usuários, sem exploração excessiva de dados.

Oportunidades e Desafios
Com mais de 30 milhões de usuários, a Bluesky já atraiu diversas comunidades, incluindo artistas, cientistas e jornalistas. O maior desafio da plataforma será continuar sua expansão sem comprometer a descentralização e a experiência do usuário. A adoção do modelo federado, em que outras empresas podem se desenvolver sobre a base da Bluesky, abre portas para mais inovação e crescimento.

Revolucionando o Futuro das Redes Sociais
A palestra de Jay Graber destacou como o futuro das redes sociais está se voltando para a descentralização, oferecendo mais controle aos usuários e diminuindo a influência de grandes corporações sobre o conteúdo. A Bluesky está trabalhando para estabelecer um novo padrão para as redes sociais, em que a comunidade tem o poder de definir suas próprias regras e experiências.
E ela deixa uma grande provocação, ao vestir uma camisa com a mensagem: por um ‘mundo sem Césares'”, sem imperadores. 

A Epidemia da Solidão

Palestrantes no evento SXSW em Austin, Texas

No SXSW, os palestrantes Christian Beaudion, CEO e fundador da Nudge, e Constance Hadley, pesquisadora e especialista em comportamento organizacional, abordaram um tema cada vez mais urgente: à epidemia de solidão que afeta tanto a sociedade quanto o engajamento dos funcionários no ambiente de trabalho. A simples volta ao trabalho presencial, defendida por muitos como solução para a solidão, não é suficiente para resolver o problema. A solidão vai além da ausência física, sendo uma questão profunda que envolve a desconexão emocional e social.

A solidão tem se espalhado rapidamente em todas as esferas da sociedade, afetando tanto a vida pessoal quanto a dinâmica no ambiente de trabalho. A solidão é muito mais do que estar fisicamente isolado; é sobre a falta de conexão emocional e a ausência de relações significativas, que podem ser mais profundas do que a distância física.

Causas da Solidão
Vários fatores contribuem para essa crescente epidemia de solidão:

  • Hiperprodutividade: O ritmo acelerado e as demandas constantes de desempenho nos fazem focar em tarefas, muitas vezes em detrimento de relações interpessoais. O tempo que antes era dedicado a interações sociais agora é gasto em busca de eficiência e resultados rápidos.
  • Queda na Participação Religiosa e Comunitária: A diminuição de práticas religiosas e a fragmentação das comunidades tradicionais também têm contribuído para a perda de espaços de conexão e apoio emocional.
  • Tecnologia e Conexões Superficiais: Embora a tecnologia tenha aproximado muitas pessoas, ela também tem levado a um aumento das interações superficiais. Muitas vezes, as redes sociais substituem as conversas reais, e a quantidade de contatos virtuais não se traduz em profundidade emocional.

Construindo Conexões Genuínas
Para combater a solidão, é essencial focarmos em criar conexões autênticas. Não se trata apenas de estar presente fisicamente ou de aumentar o número de interações online, mas de investir na qualidade das relações. Algumas pequenas ações podem ajudar a restaurar esses vínculos:

  • Reduzir o uso do celular: Em vez de distrair-se com o telefone durante uma conversa, o simples ato de estar presente e dar atenção plena ao outro pode fazer toda a diferença.
  • Mostrar interesse genuíno pelos outros: Perguntar de verdade como a outra pessoa está, sem pressa ou distrações, demonstra que se importa e que está disposto a ouvir.
  • Investir em conversas significativas: Ao invés de interações rápidas e superficiais, busque aprofundar-se em conversas que envolvam sentimentos, ideias e experiências.

A Importância de Ouvir com Empatia
Escutar com empatia é uma das formas mais poderosas de aliviar a solidão. Perguntar de maneira sincera a alguém como está se sentindo e ouvir sem pressa de dar soluções ou julgamentos cria um espaço de acolhimento e compreensão. Muitas vezes, as pessoas não buscam respostas, mas um ouvido atento e um coração disposto a entender suas emoções.

Superando a Solidão no Futuro
Superar a solidão e reimaginar um futuro mais conectado não será um processo fácil, mas é possível. Para isso, precisamos de um esforço coletivo, no qual cada um de nós se comprometa a criar um ambiente de maior união e empatia. Pequenos gestos diários, como dar atenção verdadeira às pessoas ao nosso redor, podem resultar em grandes mudanças.

Ao repensarmos nossas interações e colocarmos a conexão humana no centro, podemos começar a reconstruir as pontes que nos conectam uns aos outros, criando um futuro mais unido e solidário.

O Gospel e Seu Impacto na Indústria da Música Brasileira

Palestrantes em evento São Paulo House

O SP House sediou o painel Gospel Nation: O Som que Move Multidões no Brasil, que reuniu grandes nomes da música, como KondZilla, Paulo Alberto (Dom Reality), Ricardo Pirica (Sony Music), William Barbosa (Kwai) e Roni Maltz Bin (Sua Música), para discutir o avanço do gênero gospel no Brasil e sua ascensão como uma das vertentes musicais mais rentáveis da atualidade.

De acordo com KondZilla, um dos principais produtores musicais do país, “a música gospel tem um alcance gigantesco no Brasil e um potencial incrível de engajamento. É um mercado que movimenta milhões e que está cada vez mais conectado às novas plataformas digitais”. Durante o debate, o impacto do digital na expansão do gênero foi um dos principais temas abordados.

Plataformas como Kwai e Sua Música foram destacadas como peças-chave para a profissionalização e monetização dos artistas desse segmento. Além disso, o painel discutiu a necessidade de separar o que é produto e o que é espiritual dentro do gospel, ressaltando que o gênero opera em uma camada intangível, sendo mais do que um simples mercado de consumo.

Atualmente, o gospel é o segundo gênero mais escutado no Brasil, com mais de 18 milhões de ouvintes. Nos últimos 12 meses, o tema gerou mais de 5 milhões de hashtags, evidenciando sua força nas redes sociais e seu enorme potencial de engajamento. “O gospel tem uma mensagem que transforma”, afirmou KondZilla, enfatizando o impacto cultural e social que esse gênero tem exercido sobre o país.

Imaginando o futuro que queremos

Painel de discussão no SXSW com quatro palestrantes.

O painel que discutiu como podemos prototipar o futuro que queremos, teve uma composição bem interessante: Dr. Catie Cuan, uma coreográfa de robôs; Adam Savage, um designer de efeitos especiais; Dr. Astro Teller, capitão do hub de inovação da Alphabet’s Moonshot Factory e com a mediação do Nick Thompson, CEO do The Atlantic.

A discussão centrou-se em como observar os problemas, propor soluções e iterar até que uma descoberta significativa seja feita. A conversa destacou o valor da criatividade, brincadeira e trabalho em equipe na inovação.

Os painelistas discutiram sobre o potencial de longevidade que vai nos levar a atingir 130 anos, impulsionado por avanços em biologia e IA. Eles terminaram a conversa dando três comportamentos importantes para se abrir para o novo e conseguir prototipar o mundo que queremos: 

  1. Abraçar a audácia e humildade
  2. Ter a ação de aprendizado ao longo da vida e
  3. Não se limitar prematuramente. Não dê um “não a si antes mesmo que outros digam não”. 

Mutualismo entre Design e Tecnologia

Palestrantes em conferência SXSW 2025 no palco.

O painel profundo da IDEO, na trilha de Design, explorou o conceito de mutualismo no relacionamento entre humanos e tecnologia avançada, desafiando a visão tradicional da tecnologia como meramente uma ferramenta. Os painelistas propuseram que a tecnologia está evoluindo para exibir propriedades além da utilidade, como senciência e complexidade.

Inspirados no conceito de mutualismo da Biologia, os painelistas o transportaram para o Design, propondo a ideia de um florescimento mútuo, onde humanos e tecnologia se beneficiam de forma simbiótica.

Eles destacaram plataformas como Are.na (uma playlist para ideias), Resonate e Pialo, que promovem um engajamento ético e um crescimento recíproco. Também ressaltaram os princípios que os designers devem priorizar: mutualismo sobre controle, nutrição sobre extração e interdependência sobre acessibilidade, enfatizando a importância de projetar para um benefício mútuo de longo prazo.

Arte do absurdo 

Palestra no SXSW 2025 sobre poder do absurdo.

“Quando o mundo está insano, a resposta deve ser ainda mais insanidade, extrapolar a realidade”, assim começou o painel Dada for Dada: o poder do absurdo, no qual palestrantes do Meow Wolf, Liquid Death e a creator Boy Baddie trouxeram a ideia de que o “estranho” é melhor que o “novo” no marketing e nas produções de inovação.

Os painelistas enfatizaram a importância da autenticidade e abordagens únicas, citando exemplos como a inovadora água enlatada da Liquid Death e as exibições imersivas da Meow Wolf. A discussão destacou como a estranheza pode capturar a atenção, promover a conexão e diferenciar as marcas.

Eles também abordaram os desafios de manter a autenticidade em ambientes corporativos e a necessidade de expressões genuínas para ressoar com o público. Também anunciaram, com um show de performance, a nova instalação do Meow Wolf em Nova York, ainda sem data, mas com previsão para 2027.

Águas termais + arte imersiva + ciência & tech

Palestrantes discutem bem-estar imersivo na SXSWL 2025.

Meow Wolf teve ainda mais um outro painel, onde apresentou um novo conceito: Immersive Wellness (o bem estar imersivo). É a nova instalação imersiva do Meow Wolf que tem data para estreia em 2026 em Austin, Texas. 

A nova experiência do Meow Wolf – “Submersive” da Corvus – se ancora na intersecção de bem-estar, transformação e experiências imersivas. O Submersive combina ambientes de spa com arte imersiva para criar experiências terapêuticas e transformadoras.

A pesquisadora Susan Maxim destacou a neurociência por trás dessas experiências, enfatizando o impacto dos estímulos sensoriais no cérebro. Joseph Pine, pesquisador da Teoria da Experiência, enfatizou a importância de criar experiências que não sejam apenas memoráveis, mas profundamente transformadoras.

O fundador da imersão, Corvus Brikerhoff compartilhou a visão do Submersive como uma nova categoria de bem-estar, com o objetivo de criar estados de ser de alto valor por meio da arte e tecnologia imersivas. A discussão ressaltou a necessidade de as empresas priorizarem o florescimento humano e a responsabilidade ética no design de experiências transformadoras.

Quer ver tudo isso em ação? Assista ao vídeo com os highlights do evento e acompanhe os melhores momentos dessa experiência!

Conteúdo produzido por Paula Romano, Leila Girassol e Washington Ribeiro in loco, em Austin, no SXSW 25.

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