Elio e o coro de bonecos de madeira: quando a trilha sonora vem de outro mundo

Pixar inova mais uma vez com a trilha sonora de *Elio*, que utiliza bonecos de madeira cantores para criar um som alienígena e emocional ao mesmo tempo. Uma fusão rara de tecnologia e sensibilidade musical.
Objetos de madeira com formas geométricas sobre mesa. Objetos de madeira com formas geométricas sobre mesa.

Elio e o Coro de Bonecos de Madeira: Quando a Trilha Sonora Vem de Outro Mundo

Imagine uma trilha sonora que parece humana, mas que, ao mesmo tempo, soa como se tivesse vindo de outro planeta. Foi exatamente isso que o compositor Rob Simonsen buscou — e alcançou — para o filme Elio, da Pixar.

Pôster do filme Elio com alienígenas.

O resultado é uma das experiências sonoras mais inusitadas e intrigantes da história recente do cinema de animação.

A busca por algo que ninguém ouviu antes

Quando recebeu a missão de compor a trilha de Elio, Rob Simonsen não queria seguir o caminho tradicional. O filme é centrado em uma criança que, acidentalmente, é abduzida e confundida com o embaixador da Terra por alienígenas. Era preciso traduzir esse tom de estranhamento, curiosidade e encantamento em música. Simonsen queria algo que fosse ao mesmo tempo emocionalmente familiar e esteticamente alienígena.

A descoberta: bonecos que cantam

A resposta veio de um lugar improvável: a Teenage Engineering, empresa sueca conhecida por criar equipamentos eletrônicos com design inusitado. Entre seus produtos, está a série Choir, composta por bonecos de madeira que, apesar da aparência de brinquedo, são caixas de som com vozes únicas.

Cada boneco do Choir tem um alcance vocal próprio e canta via Bluetooth usando sinais MIDI. Sozinhos, produzem sons robóticos e curiosos. Em conjunto, formam um coro eletrônico com ressonância surpreendentemente orgânica.

Como a trilha foi gravada

Simonsen usou três conjuntos completos do Choir, gravando cada boneco individualmente, como se fossem cantores humanos. Isso permitiu capturar as nuances e harmônicos de cada um, formando arranjos a cappella que misturam texturas sintéticas e emoções humanas.

Ele microfonou os bonecos separadamente, respeitando suas peculiaridades vocais. O resultado foi uma série de camadas de vozes que não são humanas, mas também não são totalmente máquinas. É o som de uma galáxia distante — mas com alma.

Por que isso importa para a indústria?

1. Experimentação sem medo
A decisão de usar o Choir reforça uma tendência crescente no audiovisual: a busca por sonoridades novas, que fogem dos presets e bibliotecas de sempre.

2. Tecnologia como ferramenta de expressão
Simonsen não usou tecnologia pela novidade, mas pela expressividade. Os bonecos foram um meio para atingir um fim narrativo, e não o contrário.

3. Expansão do conceito de trilha sonora
A música de *Elio* não é pano de fundo — é parte ativa da construção de mundo. Essa abordagem fortalece a ideia de que som e imagem devem evoluir juntos na narrativa audiovisual.

O impacto emocional da trilha

A trilha criada por Simonsen não apenas apoia a história. Ela reforça o sentimento de descoberta, faz com que o espectador sinta que está conhecendo um novo universo junto com o protagonista. As vozes eletrônicas dos bonecos remetem a cantos infantis, mas com algo de inquietante — como se uma inteligência artificial estivesse tentando entender como os humanos se comunicam.

Futuro da música para animação

A escolha de Simonsen pode influenciar outros compositores a explorar novas fontes sonoras, mesclando elementos acústicos e digitais de forma mais ousada. Elio nos mostra que é possível emocionar o público usando ferramentas impensadas — desde que a intenção narrativa seja clara.

O uso de bonecos de madeira cantores em Elio é mais do que um truque criativo. É um exemplo poderoso de como a tecnologia pode expandir o vocabulário emocional da música de cinema. Em vez de seguir fórmulas, Rob Simonsen criou uma experiência sonora que conversa com o estranho, o belo e o inesperado — exatamente como a jornada de Elio pelo espaço.