A primeira campeã olímpica americana, a mãe da programação de computadores, uma ganhadora do Pullitzer de poesia, a pioneira da animação… o que essas pessoas têm em comum além de terem feitos excepcionais em seu tempo e não terem sido lembradas na tradicionalíssima seção de Obituários do New York Times?
De acordo com o jornal, desde 1851, foram publicados milhares de obituários sobre “homens brancos notáveis”: num levantamento recente, o jornal constatou que ao longo do tempo, apenas cerca de 15 a 20% das pessoas destacadas pela seção eram mulheres.
Estatística aceitável, qualquer um pensaria, já que a equidade é assunto que vem ganhando força somente nos últimos anos dessas quase 17 décadas e era comum a mulher não estar nos holofotes mais antigamente. Entretanto, ao analisar os obituários dos anos mais recentes (últimos 5 anos mesmo), contatou-se que essa proporção permanecia a mesma: as mulheres ainda representavam apenas um quinto das publicações.
De acordo com o editor William McDonald, o jornal “reconhece que muitos sujeitos valiosos escaparam (da seção de Obituários) por gerações, seja lá por quais motivos“. E afirma que a seção sempre refletiu o mundo como ele é (que coloca os homens brancos em posições de destaque e notoriedade) e não como o desejamos.
E para aumentar a representatividade dos negligenciados, o jornal lançou o projeto editorial Overlooked (“Esquecidos”) da seção de Obituários. Além de resgatar a história e as contribuições de mulheres que pereceram sem menção, os registros se estendem a negros e outras minorias.
A ideia do projeto foi da editora Amisha Padnani, que disse ter ficado impressionada com a quantidade de mulheres que não foram lembradas, mesmo tendo tido reconhecimento ainda em vida (um dos critérios do jornal para escolher as personalidades retratadas na seção). Esse foi o caso por exemplo de Sylvia Plath (poetisa), Charlotte Brontë (escritora) e Diane Arbus (fotógrafa).
O resultado da seção Overlooked é uma bela coleção de histórias inspiradas e inspiradoras, que vale a pena conhecer. Cada publicação inicia com o título “Overlooked no more…“, reforçando a ideia de mudança, e principalmente da redenção do Times por sua negligência ao longo do tempo.