Em uma primeira olhada, Inacreditável Esporte Clube (We are the Champions, 2020), da Netflix, parece apenas mais uma série documental mostrando esportes que você não praticaria, nem se te pagassem. Por trás de campeonatos de pimenta Carolina Reaper, uma corrida suicida do queijo ou um inocente torneio do bom e velho iô-iô, a série é especialmente sensível ao focar no QUEM.
As histórias dos competidores são muito bem escolhidas. Mesmo em episódios de 40 minutos é possível se conectar com a youtuber que superou o alcoolismo, a da mexicana que tenta brilhar em um esporte dominado por homens ou ainda na relação entre a dançarina e seu cachorro. Tudo com muito bom humor.
Séries character driven, ou seja, quando o desenvolvimento do personagem importa mais do que o plot, tem esse poder de conexão. Você pode não lembrar de cada episódio de Breaking Bad, mas certamente sabe como Walter White e Jesse Pinkman se transformaram, do primeiro ao último capítulo.
Nesse aspecto, me lembra muito outra série da Netflix: Somebody Feed Phil, já mencionada aqui pela colega Mariana Menendez. O olhar vai além da comida (naquele caso) ou do esporte. É só um pano de fundo para o que importa, que são as pessoas. Hitchcock diria que é um belo de um MacGuffin.
Espero ver cada vez mais séries que explorem o que as pessoas tem de melhor. Sua história. Sua cultura. Seu propósito no mundo. Os grandes feitos são legais, históricos, mas a simplicidade de uma ‘dançarina que dança demais” também é encantadora. Vale mencionar que nem tudo se concentra nos Estados Unidos, o que ajuda a ampliar os horizontes.
Como diz a frase que encerra um dos episódios: “Não importa o primeiro lugar. Importa o seu lugar”.
O Inacreditável Esporte Clube encontrou direitinho o seu.