Je pense, donc je suis.
A cartesiana expressão é o melhor resumo da obra “O Discurso do Método”, de René Descartes, publicado em 1637. Em tempos de mídias sociais parece que a onda do pensamento livre mais parece um tsunami. Todos têm opinião e também algo a acrescentar. Todos parecem estar dispostos a oferecer sua contribuição. Se todos estão “pensando”, será que todos estão realmente existindo?
Walk the talk, talk the Walk
Expressar opiniões não nos torna inteligentes ou efetivamente criativos. Parece que todos estão imitando Sísifo, empurrando a pesada pedra morro acima sem saber a razão dessa dura obra. O problema é que muita gente parece sentir orgulho de um trabalho que faz mas, efetivamente, não entende o propósito. No Livro do Desassossego, Fernando Pessoa diz que “a consciência da inconsciência da vida” é o mais antigo imposto à inteligência. Para ele “há inteligências inconscientes – brilhos do espírito, correntes do entendimento, mistérios e filosofias – que têm o mesmo automatismo que os reflexos corpóreos, que a gestão que o fígado e os rins fazem de suas secreções”, conclui o gajo português.
O potencial humano é apenas um fantasma que nos assombra?
Existe o mito de que a criatividade é uma entidade que usa o corpo de pessoas privilegiadas, tocadas pelos dourados dedos da sorte celestial. E muita gente acredita nisso. Acredita-se que a genialidade emana do nada, como um passo de mágica. Mas, para muita gente, principalmente gente que estuda o tema, isso é um apenas um mito. Para o pesquisador do MIT Kevin Ashton, ter ideias não é o mesmo que ser criativo. “Criação é execução, e não inspiração. Muitos têm ideias; poucos dão passos necessários para concretizar aquilo que imaginam”, afirma. Então quer dizer que a prática diligente pode ser o melhor combustível para estimular a criatividade?
Wassily Kandinsky (1866, Rússia/1944, França), famoso pintor expressionista, influenciado por Picasso e van Gogh, era conhecido por criar obras primas praticamente do nada. Sua técnica e agilidade para concluir telas assombrava o público. Mas, o que poucos ou quase ninguém sabia era que ele estudava arduamente cada um de seus trabalhos, e os repetia incansavelmente, até ter certeza de que tinha encontrado o seu ponto máximo. Por exemplo, uma de suas telas abstratas mais famosas, a Pintura de Borda Branca, de 1913, foi pintada 20 vezes antes de atingir seu clímax visual, o qual foi exposto ao público que, ingenuamente, acreditou ser mais uma filha da eureca. Sua criatividade estava marcada por cicatrizes e tentativas que o mantinha alinhado ao propósito de ser único. Essa é a mágica.
Orville e Wilbur, os irmãos Wright, eram apenas mecânicos de bicicletas, mas esse fato não os impediu de se tornarem os primeiros a criar o avião. Pelo menos o primeiro modelo confiável e bem estruturado. Não tinham dinheiro e nem apoio do governo, mas possuíam o único segredo capaz de realizar sonhos: um propósito. Gosto muito do trabalho da psicóloga Angela Duckworth. Depois de assistir à sua palestra no TED, me apaixonei pela tese de que o esforço é a chave para criações geniais e sucesso verdadeiro. Para ela a habilidade não é o mesmo que sucesso. “Sem esforço, seu talento não passa de potencial não concretizado. Sem esforço, sua habilidade não passa do que você poderia ter feito, mas não fez. Com esforço, o talento se transforma em habilidade e, ao mesmo tempo, o esforço torna a habilidade produtiva”, defende.
O Elemento
Todos nós conhecemos pessoas talentosas que se perderam no meio do caminho, e também conhecemos pessoas que tiverem períodos difíceis e superaram adversidade e deficiências para ver suas vidas mudarem radicalmente. “Aqueles que simplesmente esperam que as coisas boas aconteçam realmente terão sorte em encontrá-las…”, afirma o professor Ken Robinson, em seu livro The Element. Para ele todos moldamos as circunstâncias e as realidades de nossas próprias vidas, e também podemos transformá-las. “As pessoas que acham o seu elemento (propósito) são mais propensas a desenvolver um sentido mais claro das ambições de suas vidas e estabelecer um curso para alcançá-las”. Robinson ainda afirma que ter paixão e atitude é essencial, pois a nossa postura é crucial para determinar se vamos encontrar ou não o elemento motivador de nossas vidas.
Penso, logo desisto? Talvez. Muita gente que avalia as circunstâncias da maneira ou pelos motivos errados acaba por abandonar o barco e voltar para o conforto de sua zona particular. Quem deseja mais, e acredita haver algo mais valioso para justificar a sua existência será sempre mais capaz de lidar com o novo, com a novidade, mesmo que assustado e, por isso, acabará se acostumando com os estranhos efeitos causados pela arte de pensar. Claro que a voz que nos chama de volta para trás sempre estará lá. No entanto, essa voz será a mesma que nos oferecerá reconhecimento irrefutável, pois fomos mais fortes, reconhecendo limitações que nos serviram de inspiração. Penso, logo existo. Sim, um dia de cada vez. Uma ideia que puxa a outra. Um desafio que mostra novos caminhos. Pois não existem atalhos, existem apenas tentativas e a beleza do erro, a gloriosa magnitude da insatisfação que não nos permite ser as mesmas pessoas e nunca aceitar que o mundo seja o mesmo. Pense, exista, faça a diferença!