No meio do oceano Pacífico, como ponto central de uma inabitada circunferência de 19.900km, encontra-se o Ponto Nemo, o ponto mais distante de qualquer local habitado do planeta, sem área seca, e, por isso, com características bastante peculiares.
Em 1992, o engenheiro e pesquisador croata-canadense Hrvoje Lukatela utilizou um modelo geoespacial que ele mesmo criou – chamado Hipparchus – para identificar este ponto isolado considerando o formato elipsoide do planeta (que, nos dias de hoje, vale reforçar, não é plano).
O ponto Nemo – cujo nome foi dado em em homenagem ao personagem principal de 20.000 Léguas Submarinas, clássico escrito por Julio Verne, escrito em 1870 – é tão distante de qualquer civilização que, quando a estação espacial orbita sobre esta região, os humanos mais próximos do local são os astronautas em órbita; a ISS – International Space Station – orbita entre 360km e 456km da superfície, enquanto a população em terra mais próxima do ponto Nemo está a 2.688km de distância, nas equidistantes ilhas de Ducie, Moto Nui e Ilha de Maher, Antártida. Coincidentemente, Nemo também se traduz como ninguém, em latim.
Além (da falta) de humanos, a vida marinha no local também é rara devido à ausência de correntes e/ou ventos carregando matéria orgânica dos continentes com nutrientes suficientes para maior desenvolvimento da flora e fauna marinhos. Segundo o oceanógrafo Steven D’Hondt, da Universidade de Rhode Island, “trata-se da região com menor atividade biológica de todos os oceanos do mundo“.
Também por isso, esta circunferência imaginária ao redor do Ponto Nemo é utilizada por agências espaciais ao redor do mundo como alvo para quedas controladas de satélites e outros objetos espaciais, o que incluiu pedaços das finadas estações espaciais Mir (da antiga União Soviética) e Tiagong-1 (da China), já que o risco destes detritos acertarem algo é bastante baixa. A Área Desabitada do Pacífico Sul, como é referenciada neste meio, é considerada, assim, um cemitério espacial.
Buscando referências audiovisuais (e em português) sobre o local, são encontradas muitas teorias da conspiração (ah vá!); uma, porém, com a devida seriedade é esta, do canal SpaceToday:
Por fim, outra (enorme) curiosidade do local é que, 66 anos antes de seu descobrimento, o escritor H.P. Lovecraft havia atribuído coordenadas bastante próximas (47° 9′ S 126° 43′ O) à cidade fictícia de R’lyeh, morada do mitológico Cthulhu.
Então, se algum dia você realmente quiser ter um tempo pra si, longe de qualquer pessoa, guarde estas coordenadas: 48°52’6″S 123°23’6″ W; apenas se lembre de olhar pra cima.