Você consegue achar o elefante morto nessa imagem?
E o elefante que não está morto, nessa outra imagem?
Se você é igual as centenas de pessoas, deve ter achado o primeiro teste mais fácil (os dois são ridiculamente fáceis, mas o segundo é um fraçãozinha mais difícil, só pouquinho).
Mas por que acontece isso?
Nos dois casos era pra localizar a exceção. Por que então um foi mais difícil (um pouquinho) que o outro? Será que tem a ver com as formas? Será que o fato de saber que são elefantes influencia em alguma coisa? E o mais importante: por que estamos falando de elefantes mortos?
Pequenos testes como esse são importantes para entender como funciona a nossa atenção, como selecionamos nosso foco e com que rapidez fazemos isso.
Desde o momento que você acorda até a hora de ir dormir, o seu cérebro fica brincando de foco automático, tipo aquele da camera fotográfica sabe? Bzzz.
Você vai ao restaurante e tem aquele Buffet no meio das mesas. Cadê o prato? Bzzz.
Cadê aquela saladinha de pepino que eu gosto? Bzzz. Cadê o vinagre? Bzzz.
Onde foi que eu estacionei o carro? Bzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.
Foca aqui, desfoca alí e assim vai. E se você nesse computador que vos irradia neste instante, aí ferrou de vez: clica aqui, clica alí, procura link, aponta o cursor e vai interagindo com todo tipo de elementos.
Essa escaneada contínua e quase inconsciente acontece mesmo quando procuramos algo bem debaixo do nosso nariz. . Ache o “T”.
Um “T” é bem diferente de um “L”. Mas assim, infiltrado no meio de um montão de “L”s, o seu cérebro precisa ir quase que de um em um pra poder localizá-lo. Se você achou logo de cara foi porque são poucos elementos na imagem. Mas talvez você não nem tenha reparado que têm dois “T”s e não apenas um (a-há!).
Seu cérebro só consegue absorver um pedaço de um cardume de cada vez. Portanto, se você quiser facilitar, é só usar outra cor.
Como nos links, que antigamente eram todos azuis. Um recurso tão simples, mas tão eficiente. Foi o começo dessa famosa habilidade adquirida de escanear sites com o olhar e ir direto pros links.
Mas vamos voltar pro mistério dos elefantes. Por que, afinal, um é mais difícil que o outro?
A primeira coisa que a gente imagina é que tem a ver com o formato, com simetrias e assimetrias. Mas é mais que isso. Olha que interessante: há 30 anos, uma pesquisadora chamada Anne Treisman falou o seguinte:
“É mais fácil perceber a presença do que a ausência”
É fácil achar um pontinho em movimento no meio de vários parados. Mas é difícil achar um pontinho parado no meio de outros em movimento.
Quer testar? Ache o risquinho tombado na imagem da esquerda. Depois, ache o risquinho reto na imagem da direita.
Por que o da esquerda é mais fácil? Os pesquisadores acham que nosso cérebro busca na imagem da esquerda a presença de um errado. Enquanto na imagem da direita buscamos a ausência de um errado. Percebeu o que está acontecendo? O conceito de “certo” ou “errado” também influencia.
Um elefante morto é o errado, é a exceção, é o que “chama a atenção”. E é mais fácil achar sua presença do que sua ausência. Ou seja, usar um elefante no teste (e não apenas uma forma abstrata) faz diferença sim, e muito.
O enunciado pode mudar tudo, como você já desconfiava desde aquelas provas da escola, cheias de pegadinhas. Dependendo do que está escrito, seu cérebro reage de formas diferentes. Seu envolvimento emocional muda seu raciocínio e sua performance.
Só isso já basta pra você olhar para qualquer interface de um jeito diferente. E pensar nos caminhos que o seu mouse faz. Aliás elefante tem medo de mouse, mas isso é só um trocadilho infame para encerrar o post sem qualquer conexão com o teste. Ou não.
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Curti, Wagner, bom para diretores de arte que dizem “mas é óbvio que o cara vai reparar no detalhe”.
Cadê o carro? bzzzzzzzz hahahahaha