Políticos, empresários, associações e comunidades: O que deveriam fazer e quando?
Com tudo o que está acontecendo com o Coronavírus, pode ser muito difícil tomar uma decisão sobre como agir. Deveríamos aguardar mais informações ou fazer algo agora? Neste caso, o quê?
Isso é o que será abordado neste artigo, incluindo vários gráficos, dados e modelos de diferentes fontes:
- Quantos casos de coronavírus ocorrerão na sua região?
- O que acontecerá quando estes casos se materializarem?
- O que você deve fazer?
- Quando?
O que esperamos que você compreenda com este artigo:
- O coronavírus está vindo até você.
- Ele está chegando em uma velocidade em crescimento exponencial: gradualmente e então, de repente.
- É uma questão de dias.
- Quando acontecer, o nosso sistema de saúde ficará esgotado.
- As pessoas serão atendidas nos corredores dos hospitais.
- Os profissionais de saúde ficarão esgotados. Alguns morrerão.
- Estes profissionais terão que decidir quais pacientes receberão oxigênio e quais morrerão.
- A única maneira de prevenir isso é por meio de distanciamente social. Não amanhã, mas hoje!
- Isto significa que você deve manter o máximo de pessoas em casa, começando agora.
Como político, empresário ou líder comunitário, você tem o poder e responsabilidade de ajudar prevenir esta catástrofe.
É natural que tenha dúvidas: Será que estou exagerando? Será que as pessoas rirão de mim? Será que as pessoas ficarão chateadas comigo? Vou parecer exagerado? Estou provocando pânico? Não será melhor esperar que outros façam algo primeiro? Estarei causando um dano irreparável à economia?
Mas, em algumas semanas, quando as pessoas estiverem fechadas em suas casas, reconhecerão que estes poucos dias de isolamento lhe terão permitido salvar vidas e ninguem vai te criticar: lhe agradecerão que tenha feito o correto.
Vamos lá!
1. Quantos casos existirão na sua região?
Crescimento por país
O número total de casos cresceu exponencialmente até que a China começou a executar medidas de contenção. Infelizmente era tarde demais. Uma vez que já saiu da China, se transformou em uma pandemia que ninguém pode parar sua disseminação.
Atualmente, isso é devido aos casos da Itália, Irã e Coréia do Sul:
Existem tantos casos na Coreia do Sul, Itália e Irã que é difícil distinguir o resto dos países, mas podemos ampliar a parte inferior direita:
Existem dezenas de países com taxas de crescimento exponencial dos casos. No presente momento, a maior parte deles estão no ocidente.
Se mantivermos esta taxa de crescimento por apenas uma semana, temos a seguinte projeção de casos:
Se você quer entender o que vai acontecer, ou como prevenir os agravamentos dos problemas, temos que estudar casos de países ou regiões que já passaram por isso: china, países do leste asiático com experiência com SARS e Itália.
Este é um dos gráficos mais importantes.
As barras laranjas mostram o número oficial diário de casos na província de Hubei: quantas pessoas foram diagnosticadas neste dia.
As barras cinzas apresentam os casos verdadeiros de cada dia. O Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças identificou isso perguntando aos pacientes durante o diagnóstico, quando os sintomas começaram.
Note que estes casos não eram conhecidos neste momento. Apenas podemos estimar estas datas olhando para trás: as autoridades não sabiam que alguém estava começando a ter sintomas. Eles só passaram a saber quando a pessoa se sentiu mal ao ponto de procurar um médico e ser diagnosticado.
Isto significa que as barras laranjas mostram o que as autoridades sabiam e as cinzas o que, na realidade, estava ocorrendo.
No dia 21 de janeiro, o número de novos casos diagnosticados (laranja) dispara: registram-se cerca de 100 casos novos. Na realidade, neste dia houve 1.500 novos casos, crescendo exponencialmente. Mas as autoridades não sabiam disso. O que ficaram sabendo é que, de repente, apareceram 100 novos casos desta nova doença.
Dois dias depois, as autoridades isolaram Wuhan. Neste momento, o número de novos casos diários diagnosticados era de aproximadamente 400. Anote este número: a decisão de fechar a cidade foi tomada quando se detectaram 400 novos casos diários. Na realidade, houve 2.500 casos neste dia, mas eles não sabiam disso.
No dia seguinte, outras 15 cidades de Hubei foram isoladas.
Até o dia 23 de janeiro, quando Wuhan fechou, pode notar o gráfico cinza: ele cresce exponencialmente. Os casos reais estavam disparando. Tão logo Wuhan foi isolada, o número de casos começa a reduzir. No dia 24 de janeiro, quando outras 15 cidades foram isoladas, os casos reais (em cinza) se detêm. Dois dias depois, se alcança o número máximo de casos reais e desde então o número de novos casos caiu fortemente.
Observe que os casos em laranja (oficiais) ainda cresciam exponencialmente: durrereante 12 dias e parecia que a doença estava no auge, mas na realidade ela não estava. Issso é simplesmente um reflexo de que pacientes com sintomas mais fortes estavam buscando mais apoio médico e também dos sistemas de identificação mais aperfeiçoados.
Este conceito de casos oficiais e reais é importante. Nos lembraremos dele mais adiante.
As demais regiões da China estiveram bem coordenadas com o governo central e atuaram de maneira imediata com medidas drásticas. Este foi o resultado:
Cada linha é uma região da china com casos de coronavírus. Cada uma delas teve o potencial de se tornar exponencial, mas graças às medidas em marcha ao final de janeiro, detiveram o vírus antes de que pudessem se extender.
Enquanto isso, na Coréia do Sul, Itália e Irã, tiveram um mês inteiro para aprender, mas não o fizeram. Passaram pelo mesmo crescimento exponencial de Hubei e ultrapassaram cada uma das regiões chinesas antes do final de janeiro.
Países do leste asiástico
Os casos se multiplicaram na Coréa do Sul , mas ninguém se perguntou por quê no Japão, Taiwan, Singapura, Tailândia ou Hong King não aconteceu o mesmo?
Todos eles haviam sido afetados pelo SARS em 2003 e todos eles aprenderam naquela experiência. Aprenderam o quão viral e letal pode chegar a ser e levaram muito a sério. É por isso que todos os seus gráficos, apesar de iniciarem um crescimento na fase inicial, ainda não parecem exponenciais.
Até agora, contei histórias do coronavírus disparando e de governos percebendo a ameaça e as contendo. Para os outros países, entretanto, a história é bem diferente.
Antes de começar a falar deles, um comentário sobre a Coreia do Sul: Este país é um caso à parte. O coronavírus foi contido nos primeiros 30 casos. O paciente 31 foi um “supercontagiador” que passou para milhares de pessoas. Dado que o vírus se espalha antes das pessoas apresentarem os sintomas, quando as autoridades se deram contas do problema, o vírus já estava fora de controle. Agora estão pagando as consequências deste incidente específico. Seus esforços de contenção, mostraram resultados, entretanto. Por outro lado, a Itália já ultrapassou a Coreia do Sul em número de casos e Irã no dia 10 de Março de 2020.
Estado de Washington (EUA)
Você já perceneu o crescimento nos países ocidentais e como as previsões de uma semana são. Agora imaginem se não tivessem feito a contenção na cidade de Wuhan ou em outros países orientais.
Vamos observar alguns casos, como o do estado de Washingon, a Bay Area de San Francisco (California, EUA), Paris (França) e Madrid (Espanha).
O estado de Washington é a Wuhan dos Estados Unidos. O número de casos alí está crescendo exponencialmente. Atualmente são 140.
Mas algo mais curioso ocorreu no começo. A taxa de mortalidade era altíssima. Em algum momento foi de 1 morte a cada 3 casos.
Já sabemos por outros lugares que a taxa de mortalidade do coronavírus oscila entre 0.5% e 5% (mais sobre isto depois). Como então é possível que a taxa de mortes fosse de 33%?
Ocorre que o vírus estava se espalhando sem ser detectado durante semanas. Não haviam somente 3 casos. É que as autoridades apenas tinham conhecimento de 3 casos, sendo que uma delas resultou no falecimento por que quanto mais sérios os sintomas, maior a probabilidade de ser testado.
Isso é equivalente às barras laranjas e cinzas do gráfico da China. Aqui somente sabiam das barras laranjas (casos oficiais) e não pareciam tão ruins: apenas 3 casos. Mas na realidade, existiam centenas ou mesmo milhares de casos reais.
E aqui está o problema: apenas conhecemos os casos oficias, não os reais. Mas precisamos saber os reais. Como podemos estimar os casos reais? De algumas maneiras. Desenvolvi um modelo para ambos onde você também pode inserir dados e analisá-los (link direto para copiar a planilha)
Prmieiro, através das mortes. Se existem mortes na sua região, você pode usar esta informação para estimar o número atual de casos reais. Sabemos aproximadamente quanto tempo uma pessoa leva entre o contágio e a morte (17,3 dias). Isso significa que uma pessoa que faleceu no estado de Washington no dia 29 de fevereiro, provavelmente se contagiou lá pelo dias 12 de fevereiro.
Com isso, já sabemos a taxa de mortalidade. Para este cenário, estou usando 1% (falarei mais sobre isso nos detalhes). Isto significa que, em torno de 12 de fevereiro, haviam cerca de 100 casos nesta região (dos quais, um acabou em morte 17,3 dias mais tarde).
Agora, use o tempo médio que o Coronavírus leva para se duplicar, isto é, o tempo médio que levam para os casos se duplicarem. É de 6,2. Isto significa que, nos 17 dias que levou para esta pessoa falecer, os casos precisariam ter sido multiplicados por ~8 (= 2^(17/6)). Isso indica que, se não estão diagnosticando todos os casos, uma morte hoje implica 800 casos reais hoje.
O estado de Washington tem hoje 22 falecimentos. Com este cálculo rápido, chegamos em cerca de 16.000 casos reais de coronavirus hoje. O mesmo do que os casos oficiais da Itália e Irã combinados.
Se olharmos em detalhes, perceberemos que 19 destas mortes vêm de um mesmo grupo, o qual pode ter propagado o vírus extensamente. Assim, se consideramrmos estas 19 mortas como uma, o número total de mortes no estado é de 4. Atualizando o modelo com este número, obtemos uns 3.000 casos hoje.
Esta abordagem de Trevor Bedford analisa os próprios vírus e suas mutações para determinar o número de casos.
A conclusão é que provavelmente existam cerca de 1.100 casos no estado de Washington neste momento.
Nenhum destes métodos são perfeitos, mas todos apontam para a mesma mensagem: não sabemos o número de casos reais, mas é muito superior ao número oficial. Não são centenas, mas milhares ou ainda mais.
Área da Baía de San Francisco (California, EUA)
Até o dia 8 de março, a área da baía não teve nenhuma morte registrada. Isso complicou muito a identificação dos casos reais. Oficialmente haviam 86 casos. Mas os Estados Unidos estavam limitados aos testes dos Estados Unidos, pois não possuiam unidades suficientes. O país decidiu criar seus próprios testes, os quais não funcionaram adequadamente.
Estes são os números de testes realizados em diferentes países até 3 de março:
Turquia, com nenhum caso de coronavírus, tinha 10 vezes mais testes por habitantes do que os EUA. A situação não é muito melhor hoje, com cerca de 8.000 testes realizados nos EUA, o que significa cerca que cerca de 4.000 pessoas efetivamente foram testadas.
Aqui, podemos usar uma proporção de casos oficiais com os casos reais. Como decidir qual? Para a área da Baía de San Francisco, testaram todas as pessoas que fizeram viagens às zonas de risco ou em contato com alguém que viajou para estas zonas. Isso significa que se conheciam a maioria dos casos relacionados com viagens, mas nenhum dos casos por contágio local. Analisando os casos realacionados com viagens e os casos por contágio local, se pode estimar o número de casos reais.
Eu analisei esta taxa na Coréia do Sul, que possui muitos dados disponíveis. No momento em que eles tinham 86 casos, a porcentagem deles por contágio local era de 86% (86 e 86% são uma merca coincidência).
Com este número, se pode calcular o número de casos reais. Se na região de san francisco existem 86 casos hoje, é provável que o número real se aproxime dos 600.
França e Paris
A França divulgou que possui cerca de 2.900 casos e 61 mortes. Usando o método acima, se obtem uma faixa de casos: entre 50.000 e 300.000.
O número real de casos de coronavírus na França é provavelmente entre 50.000 e 300.000.
Permitam-se repetir este último: o número total de casos reais na frança é provável que esteja entre 1 ou 2 ordens de magnitude mais alto do que os publicados oficialmente.
Não acredita? Vamos ver o gráfico de Wuhan novamente.
Se empilharmos as barras laranjas até o dia 22 de fevereiro, teremos 444 casos. Agora, some todas as barras cinzas. Somam até cerca de 12.000 casos aproximadamente. Assim, que enquanto Wuhan pensava ter cerca de 444 casos, na realidade tinham 27 vezes mais. Se a França pensa que tem apenas 2.900 casos, na realidade pode ter dezenas de milhares.
A mesma fórmula é válida para Paris. Com cerca de 126 casos na cidade, o número de casos reais está possivelmente nas centenas ou milhares. Com 630 casos na região de Île-de-France, o número total de casos pode exceder as dezenas de milhares.
Espanha e Madrid
A Espanha possui números piores do que os da França (3.200 casos vs 2.900 e 86 falecimentos). Isto significa que as mesmas regras são válidas: Espanha tem algo entre 70.000 e 300,000 casos reais.
Na Região de Madrid, com 1.400 casos oficiais e 56 falecimentos, o número de casos se encontra provavelmente entre os 40.000 e 140.000.
Se está lendo estes dados e pensando: “Impossível, não pode ser verdade”, simplesmente pense nisto: A Espanha tem 7 vezes mais casos do que Hubei quando se declarou em isolamento total. E isso que a região tem mais população do que a Espanha.
Com o número de casos que estamos vendo em países como os EUA, Espanha, França, Irã, Alemanha, Japão, Países Baixos, Suécia, Dinamarca ou Suiça, Wuhan já estava em isolamento total.
E se você está falando: “Bem, Hubei era só uma região”, deixe-me lembrá-lo que tem quase 60 milhões de habitantes, superior à Espanha e similar à França.
2. O que acontecerá quando estes casos de coronavirus se materializarem?
O coronavirus já está aquí. Está escondido e está crescendo exponencialmente.
O que acontecerá com os nossos países quando nos atingir? É fácil saber, pois existem vários lugares do mundo onde isso já ocorre. Os melhores exemplos são Hubei e Itália.
Taxas de Letalidade
A Organização Mundial de Saúde (OMS) reporta a taxa de mortalidade como 3,4% (% de pessoas que contraem o coronavirus e falece). Este número está fora de contexto, mas vou explicá-lo.
Realmente depende do país e do momento: fica entre 0,6% na Coreia do Sul e 4,4% no Irã. Então qual é o correto? Podemos usar um pequeno truque para estimá-lo.
Duas formas típicas de cálculo da taxa de letalidade são: Mortes / Casos totais e Mortes / Casos concluídos. A primeira está provavelmente subestimando, pois muitos dos casos abertos ainda podem terminar em falecimento. A segunda sobreestima, pois é provável que as mortes se registrem mais rápido do que as recuperações.
O que podemos fazer é acompanhar como ambas evoluem ao longo do tempo. Ambos valores convergirão para o mesmo resutlado uma vez que todos os cadsos estejam encerrados de forma que, se você fizer projeções baseados no passado, pode fazer uma estimativa de qual seria a taxa de letalidade final.
É para isto que servem os dados. A taxa de letalidade da China está agora entre 3,6% e 6,1%. Se você projeta para o futuro, parece que converge para algo como 3,8%-4%. Isto representa o dobro da estimativa atual e 30 vezes pior do que a gripe.
Estes números são baseados em duas realidade muito diferentes: Hubei e o resto da China.
A taxa de letalidade de Hubei convergirá provavelmente para algo como 4.8%, enquanto para o resto da china China seja possivelmente até os 0.9%.
Também plotei os números para Irã, Itália e Coreia do Sul, os únicos países com número de mortes suficientes para que o gráfico seja relevante.
Ambos números, Mortes / Casos Totais e Mortes / Casos Encerrados, convegem na faixa de 3%-4% para Itália e Irã. Suponho que os seus números finais fique ao redor deste valor.
Coréia do Sul é um exemplo interessante, pois os números estão completamente desconectados: Mortes / Casos totais é de apenas 0,6%, mas Mortes / Casos Encerrados é de um alarmante 48%. Minha opinião é que algo muito particular esteja ocorrendo lá: Primeiro, eles estão testando todo mundo (com tantos casos abertos, a taxa de morte parece baixa) e deixando os casos abertos por mais tempo (assim podem fechar casos mais rapidamente quando o paciente falece). Também é possível que, com tantos leitos por habitante, o sistema de saúde não esteja colapsado. O que é relevante é que o número de Mortes / Casos oscilou ao redor de 0,5% desde o começo, o que sugere que ficará em torno disto.
O último exemplo relevante é o do cruzeiro Diamond Princess: com 706 casos, 6 mortes e 100 recuperações, a taxa de letalidade estaria entre 1% e 6.5%
Isso é o que se pode concluir:
- Os países que estão preparados verão uma taxa de letalidade do vírus ao redor de 0,5% aproximadamente (Coréia do Sul) a 0,9% (resto da China).
- Os países com o sistema de saúde sobrecarregado possuem uma taxa de letalidade entre 3%-5% aproximadamente.
De outra maneira, os países que atuam rapidamente podem reduzir e o número de mortes por um fator de ao menos 10. ISto apenas contando a taxa de letalidade. Agir rápido também reduz dramaticamente os casos, sendo a solução mais óbvia.
Os países que atuarem rápido reduzem o número de mortes ao menos por um fator de 10
Então, o que um país precisa fazer para estar preparado?
A Pressão no Sistema de Saúde
Ao redor de 20% dos casos requerem hospitalização. 5% dos casos exigem internação e cerca de 2.5% exige ajuda intensiva e equipamentos e oxigenação (Oxigenação por Membrana Extracorpórea — OMEC).
O problema é que respiradores e OMECs não podem ser fabricados ou comprados facilmente. Há alguns anos, nos EUA existiam cerca de 250 máquinas OMEC, por exemplo.
Assim que, se de repente existem 100.000 pessoas infectadas, muitas delas querem fazer o teste. Ao redor de umas 20.000 exigirão hospitalização, 5.000 teriam que ir para CTI e 1.000 necessitarão de máquinas de respiração que ainda não possuimos hoje. Isto para apenas 100.000 casos.
Isto sem levar em conta outros problemas como as máscaras. Um país como EUA somente possui 1% das máscaras que necessita para cubrir as necessidades das equipes de saúde (12 milhões de máscaras N95, 30 milhões de máscaras cirúrgicas frente aos 3.500 millones que precisam). Se muitos casos aparecerem simultâneamente, os EUA terão máscaras para somente 2 semanas.
Países como Japão, Coréia do Sul, Hong Kong ou Singapura, da mesma forma que regiões foram de Hubei, tem estado preparadas e proporcionaram cuidados aos pacientes que precisaram.
Mas o resto dos países ocidentais estão mais próximos da direção de Hubei e Itália. O que está acontecendo alí?
O que se esperar de um sistema de saúde sobrecarregado?
Os eventos que se passaram em Hubei e na Itália estão começando a parecer assustadoramente similares. Hubei construiu dois hospitais em 10 dias, mas ainda assim, estavam completamente saturados.
Ambos reclamaram que os pacientes inundaram os seus hospitais. Eles tiveram que recebê-los em todos os lugares: corredores, salas de espera…Medico Humanitas su Facebook: “Situazione drammatica, altro che normale influenza”l’emergenza di Redazione Bergamo online Pubblichiamo l’intervento sui social di Daniele Macchini, medico alle Cliniche…bergamo.corriere.it
Os profissionais da área de saúde passam horas com o mesmo material protetor já que o número disponível não é suficiente para trocas. Por conta disso, eles precisam ficar muito tempo nas zonas infectadas. Quando o fazem, colapsam de cansaço e desidratação. Já não existem turnos. Pessoas aposentadas são chamadas para cobrir as necessidades. Pessoas sem experiência em enfermaria são treinadas da noite para o dia para preencher posições críticas. Todos estão de prontidão, sempre.
Isto até que caiam doentes, o que ocorre com frequência, pois estão submetidos a uma exposição constante do vírus, sem proteção suficiente. Quando isto acontece, são postos em quarentena durante 14 dias, os quais não podem ajudar. No melhor dos cenários, duas semanas perdidas. No pior, a morte.
O pior está nos CTIs, quando os pacientes necessitam compartilhar respiradores ou OMECs. Estes são, na realidade, impossíveis de compartilhar, assim os médicos precisam decidir quais pacientes os usarão. Isto significa que irá viver ou morrer.Coronavirus: ‘We must choose who to treat,’ says Italian doctorAn Italian doctor in Lombardy, a region of Italy that has been quarantined due to the new coronavirus (Covid-19)…www.brusselstimes.com
“Depois de alguns dias, temos que escolher […] Nem todo mundo pode ser entubado. Decidimos em função da idade e do estado de saúde.”
— Christian Salaroli, médico italiano.
Tudo isso é que o leva a ter um sistema com taxa de letalidade de ~4% ao invés de ~0.5%. Se quiser que a sua cidade ou país também tenha esta taxa, não faça nada hoje.
3. O que deveríamos fazer?
Achatar a curva
Isto já é uma pandemia. A epidemia tem ritmo próprio e você não pode simplesmente pará-la. O que podemos fazer é reduzir o seu impacto.
Alguns países tem sido exemplares. O melhor é Taiwan, muito conectado à China e com menos de 50 casos hoje em dia. Este artigo científico explica todas as medidas que tomaram ainda cedo e focadas na contenção.Response to COVID-19 in Taiwan: Big Data Analytics, New Technology, and Proactive TestingThis Viewpoint describes the outbreak response infrastructure developed by the Taiwanese government following the SARS…jamanetwork.com
Eles foram capazes de contê-lo, mas muitos países não possuem sua experiência e não conseguiram fazê-lo. Agora, estão focados em mitigar os efeitos da doença, tornando-o o mais inofensivo possível.
Se reduzirmos as infecções o quanto pudermos , nossos sistemas de saúde serão capazes de gerir mutio melhor os casos, reduzindo a taxa de letalidade. E se espalharmos isto ao longo do tempo, chegaremos a um ponto em que a sociedade poderá ser vacinada, eliminando todo o risco. Assim que nosso objetivo não é eliminar os contágios por coronavirus, mas sim adiá-los.
Quanto mais adiarmos os casos, melhor funcionará o sistema de saúde, mais baixa será a taxa de mortalidade e mais alta a porcentagem da população que poderá ser vacinada antes de ser infectada.
Como se achata esta curva?
Distanciamiento social
Existe uma coisa muito simples que podemos fazer e que funciona: distanciamento social.
Se voltarmos ao gráfico Wuhan, você se lembrará que tão logo foi feito um isolamento total da região afetada, os casos se reduziram. Isso é por que as pessoas deixaram de interagir e o vírus não espalhou.
O consenso científico atual diz que este vírus pode propagar dentro de 2 metros se alguém tossir. De outro modo, as gotículas caem ao solo e não infectam.
A pior infecção vem então através das superfícies. O vírus pode sobreviver até 9 horas em diferentes superfícies como o metal, cerâmica e plásticos. Isto significa que coisas como os maçanetas, mesas, ou botões de elevadores são importantes vetores de infecção.
A única maneira de reduzir realmente isto é através do distanciamiento social: que a gente fique em casa tanto quanto seja possível, durante o máximo de tempo até que isto retroceda.
Isto foi provado no passado. Concretamente, a pandemia da gripe de 1918.
Lições da Pandemia de Gripe de 1918
É possível observar como a Philadelphia não atuou rapidamente e teve um pico massivo de mortes. Compare com St. Louis, que não teve!
Agora, olhe para Denver, que implantou medidas e depois as relaxou. Eles tiveram um pico duplo, sendo o segundo mais alto que o primeiro.
Generalizando, isto é o que vemos:
Este gráfico mostra, para a gripe de 1918 nos EUA, quantas mais mortes houve por cidade em função da rapidez con a qual se tomaron medidas. Por exemplo, uma cidade como St. Louis tomou medidas 6 dias antes que Pittsburg e teve menos da metade de mortes por cidadão. de média, tomando medidas 20 dias antes, reduziu a taxa de mortalidade à metade.
Itália se deu conta finalmente disto. Primeiro isolaram lombardia no domingo e, um dia mais tarde, na segunda-feira, se deram conta do erro e decidiram que deveriam isolar todo o país.
Ainda teremos que esperar de uma a duas semanas para ver os resultados. Lembremos do gráfico de Wuhan: Houve um intervalo de 12 dias do momento que o fechamento foi anunciado até o momento em que os casos oficiais (laranjas) começaram a baixar.
Como os políticos podem contribuir com o distanciamiento social?
A pergunta que os políticos estão se fazendo hoje não é se deveriam fazer algo, mas qual são as ações apropriadas que deveriam tomar.
Existem várias etapas para o controle de uma epidemia, começando com antecipação e terminando com a erradicação. Mas já é demasiado tarde para a maioria das opções. Com este nível de casos, as duas únicas opções que os políticos têm a sua disposição são a contenção ou mitigação.
Contenção
Conter significa assegurar que todos os casos são identificados, controlados e isolados. É o que a singapura, Hong Kong, Japão ou Taiwan estão fazendo bem: muito rapidamente limitaram o número de pessoas que chegam, identificam os doentes, os isolam imediatamente, utilizam material protetor para proteger os profissionais de saúde, investigam todos os contatos, os põem em quarentena… Isto funciona extraordinariamente bem quando se está preparado e se faz no início. Não é necessário impactar a economia para realizar isto.
Eu falei da bem sucedida estratégia de Taiwan. Mas a da China também foi. Os esforços que realizou para lutar contra o vírus são esmagadores. Para dar um exemplo, formaram 1.800 equipes de 5 pessoas cada rastreando cada pessoa infectada, todos aqueles com quem se haviam relacionado e depois com todos os que haviam relacionado com estes últimos e depois isolando a todos. Foi assim que foram capazes de conter o vírus em um país imenso.
Isto não é o que os países ocidentais têm feito. E já é tarde demais. O anúncio recente dos EUA sobre a proibição de viajar entre grande parte da europa e EUA, é uma medida de contenção em um país que tem, ao dia de hoje, 3 vezes o número de casos que Hubei tinha quando foi isolada, crescendo exponencialmente. Como podemos saber se esta medida é suficiente? Simplesmente analisando a proibição de de viajar a Wuhan.
Este gráfico, basado em um modelo criado por epidemiólogos, mostra o impacto que a proibição de viajar a Wuhan teria retardando a epidemia. O tamanho das bolhas mostra o número de casos diários. A linha superior mostra os casos se não fazemos nada. as outras duas linhas mostram o impacto se os 50% e 90% das viagens são eliminadas, respectivamente. Se você não enxerga muita diferença, este é o ponto. Os pesquisadores estimam que, no total, a proibição de viajar a Wuhan somente adiou a expansão do vírus em uns 3–5 dias.
Agora, o que os pesquisares acham que seria o impacto de reduzir a transmissão?
O bloco superior é o mesmo que já vimos antes. Os outros dois blocos mostram taxas de transmissão se reduzindo. Se a taxa de transmissão baixa de 25% (através do distanciamente social), se achata a curva e atrasa o pico em cerca de 14 semanas. Se reduzimos a taxa de transmissão em 50%, já não poderemos nem sequer ver o máximo da epidemia em um trimestre.
A restrição de viagens à Europa é boa: provavelmente permitiu que o país ganhasse algumas horas, um dia ou dois. Mas não mais do que isso. Não é suficiente. É apenas contenção, quando o que precisa-se agora é mitigação.
Uma vez que se tem centenas ou milhares de casos crescendo na população, prevenir que cheguem mais ou rastrear os existentes e isolar os seus contatos não é suficiente. O próximo nível é a mitigação.
Mitigação
Mitigação requer um distanciamiento social rigoroso. As pessoas precisam deixar de sair e encontrar com outras pessoas para reduzir a taxa de transmissão (R), de R = ~2–3 onde o vírus progride sem controle para algo abaixo de 1, quando eventualmente desaparece.
Estas medidas requerem o fechamento de empresas, mercados, transporte público, escolas e assegurar o cumprimento das mesmas. Quanto pior for a situação, mais rigoroso deve ser o distanciamento. Quando antes se imponham medidas rigorosas, antes poderão ser retiradas, mais fácil será identificar os casos em processo e menos gente será infectada.
Isto é o que fez Wuhan. Isto é o que a Itália foi forçada a aceitar. Porque quando o vírus está fora do controle, a única medida que funciona é que todas as zonas infectadas deixem de propagá-lo de uma vez.
Com milhares de casos oficiais — e dezenas de milhares de reais — isto que países como Irã, França, Espanha, Alemanha, Suíça ou os EUA têm que fazer. Hoje.
Mas não estão fazendo.
Algumas empresas adotaram o trabalho remoto, o que é fantástico.
Alguns eventos de massa foram cancelados.
Algumas áreas afetadas já foram colocadas em quarentena.
Todas estas medidas ajudam a reduzir a velocidade de infecção de 2,5 para 2,2, talvez 2. Mas elas não são suficientes para nos colocar abaixo de 1 durante um período prolongado de tempo para parar a epidemia. E se ñão pudermos fazer isso, precisamos ficar o mais próximo possível de 1 para suavisar a curva.
Assim a pergunta é: Quais são as escolhas que teremos que fazer para baixar o R? Quai foi o Menu que a Itália nos apresentou?
Ninguém pode entrar ou sair de áreas isoladas, a menos que se demonstrem razões familiares ou de trabalho.
- O transito dentro destas zonas deve ser evitado, a menos que seja justificado por razões pessoais ou profissionais de urgência.
- É altamente recomendado que todos aqueles com sintomas (infecção respiratória e febre) fiquem em casa.
- As folgas dos profissionais de saúde estão suspensas.
- Fechamento de todas as instituições educacionais, ginásios, museus, estações de esqui, centros sociais e culturais, piscinas e teatros.
- Os bares e restaurantes têm um horário limitado de abertura de 6 da manhã às 6 da noite, com uma distância mínima de um metro entre as pessoas.
- Todos os pubs e clubs devem fechar.
- Toda atividade comercial deve manter uma distância de um metro entre os clientes. Os que não podem garantir esta distância devem fechar. As Igrejas pudem permanecer abertas desde que garantam esta distância.
- As visitas de amigos e familiares a hospitais devem ser restritas.
- As reuniões de trabalho devem ser adiadas. Deve-se incentivar o trabalho em casa (home-office).
- Todos os eventos esportivos e competições, públicas ou privadas são canceladas. Aqueles eventos importantes devem ser realizados de portas fechadas.
Dois dias depois, adicionaram: “Não, na verdade é necessário fechar todos os negócios que não são cruciais. Então estamos fechando escritórios, cafeterias e lojas. Somente o transporte, farmácias e mercados de alimentação permanecerão abertos.”
Uma estratégia é incrementar as medidas gradualmente. Infelizmente isto dá mais tempo ao vírus para ele se espalhar. Se quiser ficar seguro, faça ao estilo de Wuhan. As pessoas podem até reclamar agora, mas agradecerão mais tarde.
Como os empresários podem contribuir ao distanciamente social?
Se você for um empresário ou executivo e quer saber o que deveria ser feito, um recurso disponível é o Staying Home Club. É uma lista de políticas distanciamente social implementadas por empresas de tecnologia dos EUA.
Vão de trabalho em casa, restrição a reuniões, viagens ou eventos.
Existem mais coisas que cada empresa pode definir, como fazer com os prestadores de serviço que ganham por hora, manter escritório aberto ou não, como realizar entrevistas, como fazer com refeitórios. Se quiser saber como minha empresa Course Hero lidou com esta situação, aqui está o que utilizamos (versão de leitura aqui, en inglês).
4. Quando?
É bem possível que até agora esteja de acordo com tudo o que falei e esteja se perguntando desde o começo quando tomar cada decisão. De outro modo, quais são os gatilhos que disparam cada medida.
Modelo de Gatilhos baseado no risco
Para resolver isto, eu criei um modelo.
Este modelo permite estimar o número provável de casos na sua região, a probabilidade de que seus funcionários estejam infectados, como evolui com o tempo e como isso deveria lhe orientar sobre manter o negócio aberto ou fechado.
Nos diz coisas, como:
- Se hoje (13 de Março) a sua empresa estiver na região de Madrid e tem 250 empregados, existe uma probabilidade de 80%-90% de que pelo menos um dos seus funcionários tenha o coronavírus. Feche o seu escritório já.
- Se uma empresa tem 100 funcionários e está na zona dos estado Washington con 11 mortes por coronavirus no dia 8 de Marzo, existe 25% de probabilidade de que pelo menos um dos seus empregados esteja infectado e a empresa deveria fechar imediatamente.
- Se a empresa tinha 250 funcionários, principalmente ao sul da Baia de San Francisco (os condados de San Mateo e Santa Calara, que juntos possuem 22 casos oficiais e o número reais de estão provavelmente ao menos 54 no dia 8 de Março), para o 9 de narço teria aproximadamente 2% de probabilidade de ter pelo menos um funcionário infectado.
- Se a empresa está em Paris, e tem cerca de 250 funcionários, existe mais que 95% de chance de pelo menos um funcionário estar infectado e você deve fechar o seu escritório.
Este modelo usa nomes como “empresa” e “funcionário”, mas o mesmo modelo é válido para qualquer outro âmbito: escolas, transporte público…. Assim, se a sua empresa possui 50 funcionários em Paris, mas todos eles tem que usar o RER, entrando em contato com milhares de pessoas, de repente a possibilidade que pelo menos um deles se contagie é muito maior e deveria fechar o escritório imediatamente.
Se ainda está hesitante, pois ninguém está apresentando sintomas, saiba que 26% dos contágios ocorrem antes que se produza sintomas.
É parte de um grupo de líderes?
Este cálculo é egoísta. Ele focou individualmente no risco de cada empresa, aceitando riscos até que a inevitável presença do coronavírus fechasse nossos escritórios.
Mas se você é parte de um grupo de líderes de líderes empresariais ou político, os seus cálculos não deveriam levar em conta apenas uma empresa, mas todas. O cálculo se traduz assim: Qual é a probabilidade de que algumas das nossas empresas esteja contagiada? Se é parte de um grupo empresarial de 50 companhias com 250 funcionários na média, na região de Madrid, existe uma probabilidade de mais de 99% de que pelo menos uma tenha um funcionário infectado. Eu adicionei uma aba na planilha para lidar com estes números.
Conclusão: o custo da espera
Pode ser amedrontador tomar uma decisão agora, mas você não deveria pensar desta forma.
Este modelo teórico apresenta 3 comunidades diferentes: uma que não toma medidas de distanciamiento social, outra as adota no mesmo dia do surto (dia n) e a outra no dia após o dia do surto (dia n+1). Todos os números são completamente fictícios (ainda que similares ao que ocorreu en Hubei, com uns 6.000 novos casos diários no pior momento). Somente servem aqui para ilustrar o impacto que apenas um dia pode ter em algo que cresce exponencialmente. Observe no gráfico de cima como o atraso das medidas por apenas um dia tem na quantidade e data em que ocorrem os picos de casos.
Mas e os casos acumulados?
Neste modelo teórico que se parece vagamente a cidade de Hubei, esperar um dia a mais cria 40% mais casos! Assim, talvez se as autoridades de Hubei tiverem declarado o fechamento no dia 22 janeiro ao invés do dia 23, talvez pudessem reduzir o número de casos em um valor impactante: 20.000.
E lembre-se, estes são apenas casos. A taxa de mortalidade seria muito maior, pois não haveriam diretamente 40% mais falecimentos. Haveria um colapso do sistema de saúde ainda maior, levatando a taxas de mortalidades a serem 10 vezes superiores ao que vimos antes. asssim que um dia de diferença na tomada de medidas de distanciamiento social poed acabar disparando o número de mortes na sua região multiplicando o número de casos e aumentando a taxa de letalidade.
Esta é uma ameaça exponencial. Cada dia conta. Quando atrasa a decisão por um simples dia, não está contribuindo para poucos casos. São provavelemtne centenas ou milhares de casos. Cada dia que não existe distanciamente social, estes casos crescem exponencialmente.
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Esta é possivelmente a única vez na última década em que compartilhar um artigo pode salvar vidas. Todos necessitamos entender isto para evitar uma catástrofe. O momento de atuar é agora.
Tradução e adaptação de Dra. Alicia Oliveira e Alexandre Oliveira.
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Melhor post que já li até agora sobre o Coronavírus.
Me assusta como as pessoas estão lidando com esse vírus aqui no Brasil.
Impecável. PARABÉNS, Tomás!