“Quantos de nós vão adoecer mentalmente com esse isolamento e essa solidão?”
É o que tenho ouvido e lido com frequência nesses últimos dias em vários meios, nessa jornada COVID-19 no Brasil. E eu me vejo pensando em como a nossa mente, tão rápida como a luz, a Internet ou o som, é veloz para criar histórias e futuros terríveis em segundos.
Entendendo que nós somos a nossa própria máquina e tecnologia prestes a entrar em curto circuito se não aprendermos uma coisa básica do nosso sistema: nos conectar.
Eu costumo dizer que nós temos a Internet, mas precisamos ainda aprender a SER Internet. Afinal, não adianta nada termos um maravilhoso recurso para falar com o mundo inteiro se continuamos apegados aos hábitos do passado cercado pelas nossas próprias fronteiras. E este recurso requer sim uma nova educação sobre comunicação, contato e relação humana. Não é apenas um item que você adquiriu e usa como uma roupa nova, um presente que ganhou ou pegou emprestado.
A Internet requer, antes de qualquer coisa, que você mude a sua forma de existir e ver a vida. E o que significa isso na prática?
Em primeiro lugar, na minha perspectiva, ela vem para nos dizer que nós somos cidadãos globais. E esse conceito deveria ser internalizado do presidente que comanda ao país e os grandes donos de empresas e instituições a você.
Foi-se o tempo que uma doença, por exemplo, iria aparecer e morrer em um continente, pois só através dos barcos poderíamos cruzar os oceanos. Junto com o avanço dos meios de transportes e as mudanças econômicas, hoje uma pessoa pode estar na Itália, amanhã nos Estados Unidos e depois no Brasil. Ou seja, nos tornamos rápidos no físico e no virtual. Por isso, toda e qualquer decisão tomada do outro lado do mundo impacta aqui – é só uma questão de tempo. E talvez se tivéssemos percebido isso antes já teríamos tomado medidas preventivas assim que o vírus despontou na China ao invés de achar que isso não fazia parte da nossa realidade.
Não é um item apenas de empresas multinacionais que já têm em seu core essa “integração”. Nós somos multinacionais – da compra feita pela Amazon ou pelo Ali Baba, do filme espanhol visto no Netflix, do Uber que pegamos, do Airbnb que moramos, do Whatsapp que usamos para falar com a família, do amigo árabe, do vizinho japonês, do alimento que consumimos, da roupa que vestimos…
O mundo faz parte da nossa rotina, o que dirá dos políticos? Então o que podemos aprender com os outros países? O que já foi tentado e testado? Como compartilhar as informações entre nações de forma honesta pelos governantes sem o medo de perder o poder global conquistado até agora? Seremos capazes de baixar a guarda para assumir que não sabemos de tudo e articular internacionalmente com um único objetivo? Desafio lançado.
Tem circulado entre amigos meus, nestes dias, um vídeo do Bill Gates de 4 anos atrás em um TED falando sobre o investimento feito em guerras, muito maior do que o investimento feito na ciência, e que o nosso maior perigo estaria no micro. E o Corona é apenas um indício desse alerta. Outros virão, com uma capacidade de se espalhar rapidamente como uma conexão 5G. É uma bela reflexão, que nos exige consciência e responsabilidade para buscar formas coletivas, com os melhores profissionais do mundo, para estarmos preparados.
Não se trata de “isso é meu” ou “isso é seu”. Hoje fechamos as portas dos territórios como medida de contenção e até mesmo desespero depois do alto impacto do COVID-19 na sociedade, e eu fico me perguntando se uma aproximação, através de um trabalho em conjunto e articulado poderia, por que não, evitar novos isolamentos. Quando existe uma guerra entre países, temos uma situação polarizada: quem vence e quem perde, eu quero isso e você aquilo. E por mais que um vírus pode inclusive ser usado como uma estratégia de guerra, o quanto se torna ambicioso ou estúpido demais achar que é possível controlar sozinho todas as consequências globais em um mundo tão sem fronteiras? Utopia?
O que nos leva ao segundo ponto de ser Internet: confiança. O quanto estamos desarmados o suficiente para confiar no outro, sem vê-lo, sem tocá-lo, sem estar presencialmente do lado? E isso vale para todos os aspectos de nossa vida. Tenho notado, por exemplo, pessoas incomodadas sobre home office, às vezes se forçando a ir à empresa só por uma questão de aparência. E não estou falando sobre a rotina de se trabalhar de casa administrando filhos ou setores onde o físico é essencial. Mas percebo a mente buscando ali um padrão antigo de conexão com o contratante: “Olha, estou trabalhando e não de férias”. E o pior é que muitos contratantes também se sentem mais tranquilos ao ver a pessoa no escritório.
O fato é que quem não quer trabalhar não trabalha, quando está fisicamente na empresa. Enrola, cria subterfúgios. Quem quer trair sua confiança trai, mesmo morando a vida inteira colado em você. A presença não é segurança de nada. E o que ela faz é apenas criar uma ilusão de controle do que seus olhos veem. Confiança não se mede, não é tangível, é sentida. É uma realidade tão abstrata como a banda larga que você não vê, mas diminui seu tempo de download. E qualquer argumento ou expectativa que seu cérebro tente criar para prever o futuro pode apenas te trazer ansiedade e insegurança desnecessárias.
A Internet é aberta na maior parte do mundo e você não controla com seus olhos. É praticamente impossível saber tudo que está acontecendo através dela. Mas vamos combinar, você nunca soube de verdade. E ela é presente – você está conectado com todos no agora. Um post, uma mensagem, um vídeo, um artigo em qualquer lugar do planeta podem mudar o amanhã. Então como usar o presente, principalmente em um momento de doença, para impactar de uma forma saudável a sociedade?
Ao que vamos para o terceiro ponto de ser Internet: responsabilidade. A flexibilidade e a liberdade que temos de conseguir nos conectar com qualquer lugar e pessoa é real. Compartilhar fake news sobre a doença sem checar se são fontes confiáveis podem causar estragos, como contaminação ou até morte. E o problema não é da plataforma.
Particularmente, acho um desserviço à sociedade quando escuto frases como: “as pessoas estão histéricas com o Corona por causa das redes sociais”. Das redes sociais? As pessoas estão histéricas por causa das pessoas. Então como usar a tecnologia a nosso favor? Não adianta pensar no que você está perdendo com a sua rotina alterada ou se lamentar por não poder sair de casa.
Considerando o contexto de agora e as necessidades atuais das pessoas o que você pode fazer com os seus recursos? E não estou falando apenas de informações sobre o Corona. Somos complexos, uma máquina com zilhões de interações internas entre nossos órgãos, e através dos detalhes podemos acalmar nossas mentes e corações.
Somos criativos, inventivos e só conseguiremos manter nossa sanidade mental, foco e calma se criarmos soluções baseadas no agora e não no passado. E é incrível ver o movimento que tem surgido, de pouco em pouco, através de pessoas e empresas em busca desse “sentimento” de humanidade. E eu posso citar algumas delas: coletivas de imprensa feitas através de aplicativos, empresas de comunicação como a Globo, SBT e as operadoras de TV a cabo abrindo seus conteúdos, shows digitais acontecendo, sejam eles intimistas com o de Chris Martin, do Coldplay ou Neil Young, como também shows mais estruturados como o #festivalmúsicaemcasa com mais de 20 artistas tocando exclusivamente de suas casas no Instagram.
Museus, parques e diversas instituições abrem visitas online, professores dão aulas de conhecimento, de dança, de qualquer coisa à distância, Perestroika, Casa do Saber, FGV deixam seus cursos gratuitos, Rita Lobo faz receita rápida para home oficce, padres dão bênçãos em lives, Luis Lobianco pede que as pessoas mandem poesias para ele ler, influenciadoras fazem uma agenda especial para crianças e mães em suas redes… Tanta coisa que nos fazem lembrar que estamos vivos. Na VIU Hub, para ajudar, fizemos uma curadoria de todas essas boas iniciativas no nosso perfil no Insta (@viuhub).
O que me faz chegar no último item desse artigo sobre ser Internet: conexão humana. Sim, a Internet é conexão pura, assim como a gente. E a tecnologia deve ser vista com um grande aliado nessa missão, e não um vilão que nos assombra com os golpes digitais. Lembre-se: as pessoas já roubavam, matavam e eram preconceituosas antes dela existir.
Estamos falando de pessoas, que precisam ganhar consciência como uma sociedade conectada em muitos níveis. É preciso olhar para o lugar correto se queremos mudar alguma coisa, ao invés de buscar a desculpa de vítima ou um bode expiatório para a sua situação. É preciso olhar para dentro. Por isso, sabe aquele amigo seu que tem dificuldade de ficar sozinho? Que tal ligar para ele? Sua avó, seus pais que estão isolados, que tal ensinar clicar na câmera de aplicativos para vocês se verem?
Existem vários serviços gratuitos, através do qual você pode falar com amigos, familiares ou pessoas do seu trabalho, como Skype, Zoom, Teams, Whereby, BlueJeans, Whatsapp, Hangouts, Facetime entre outros. Se nunca usou, está aí um excelente momento de experimentar e estar perto de quem você se importa. Dê um Google, peça ajuda e aprenda. Nós somos seres aptos a aprender novas hábitos e conceitos se estivermos dispostos e abertos para isso. Faça as pazes com a tecnologia, se desprenda de resistências e se importe. A empatia é também abstrata, mas eficaz quando lidamos com ela como um exercício ou uma oração diária. Como então podemos colaborar com o outro?
Assim, talvez a tecnologia nos ensine que a conexão vai além da presença física, que sentimos coisas inexplicáveis para o nosso cérebro, e que existem formas abstratas e não tangíveis que nos confortam e nos fazem humanos. Tornando, quem sabe, um momento de doença também em uma oportunidade de cura. Se dizem por aí que em situações de crise é quando descobrimos realmente quem somos, a pergunta que faço é o quanto ainda estamos enclausurados na nossa própria cabeça? Por isso, busque alternativas ao medo e fique bem. Esteja atento ao mundo, confiante, livre, atuante, responsável e conectado – com todo o seu ser.
Me senti mais conectado. Um prazer.
Só li verdades.
(aplausos!)
Clara, objeþiva e até didátíca
Apenas ” o máxímo”!!!