Ser mãe e profissional realizada. É possível?

Essa dúvida que passa na cabeça de tantas mulheres, também já foi uma questão para mim.
Ser mãe e profissional realizada. É possível? Ser mãe e profissional realizada. É possível?

Hoje com o Benjamim, meu filho de um ano e sete meses nos braços, posso afirmar que essa equação pode sim ter um saldo bastante positivo.

Sempre li muitos textos e ouvi diversos relatos sobre como é difícil conciliar maternidade e carreira, principalmente considerando a sociedade em que vivemos, ainda muito machista, que pressupõe ou induz a necessidade de dedicação total da mulher para ser mãe.

É sabido que há algum tempo os conceitos de instinto e de natureza humana vêm sendo questionados. Mesmo essas ideias já tendo sido rejeitadas, elas ainda perduram, de alguma forma, na atual visão de maternidade. Hoje, há abertura para a multiplicidade de experiências femininas, porém, elas continuam a ser mais ou menos submetidas a esses antigos valores sociais, cuja força não se pode deixar de levar em conta. Ao mesmo tempo que existem incentivos à profissionalização da mulher, permanece também a expectativa de que um dia elas venham a cumprir seu “principal” papel, o de mãe.
Como conciliar, então, essas duas atribuições?

As mulheres atuais, em sua maioria, encontram-se sem um referencial, sem modelos a seguir e, assim, têm que buscar novas formas de lidar com os problemas que a elas se apresentam agora, e que são distintos daqueles que eram comuns às mulheres das gerações anteriores. Ainda mais se considerarmos o cenário sem precedentes de pandemia e isolamento social que forçou o regime home office de muitas empresas e, consequentemente, potencializou e evidenciou, ainda mais, as dificuldades que a combinação “carreira e maternidade” podem apresentar. É fato que ainda não surgiu uma solução satisfatória para a sobrecarga decorrente de ter que conciliar e se dividir entre o trabalho e a família. E essa situação leva um número cada vez maior de mulheres a buscar soluções individuais, como reduzir o número de filhos, adiar a maternidade, ou, até mesmo, fazer sua opção pela carreira profissional, desistindo de ser mãe. O que muito me entristece.

Por isso, resolvi compartilhar um pouco da minha experiência e, sem análises ou julgamentos, refletir sobre algumas histórias que ouvi durante o processo de produção desse artigo. Relatos de mulheres que foram desligadas assim que descobriram a gestação ou quando regressaram da licença maternidade. Outras que perceberam uma interrupção no progresso de suas carreiras depois da gravidez, enquanto homens ou mesmo suas colegas sem filhos seguiram numa trajetória de promoção e aumento de prestígio. Mas, também pude coletar bons exemplos. Ou seja, é possível afirmar que há, mesmo que minoria e sem considerar amostra poucas histórias de mulheres tratadas com igualdade e sendo valorizadas mesmo depois de terem sido mães. E, felizmente tem sido assim comigo. Tenho o privilégio de ter um líder com valores tão humanos e trabalhar num local com uma cultura que valoriza a maternidade e entende que esse acontecimento é um marco na evolução de qualquer mulher, de maturidade.

Trabalhar nesse ambiente proporcionou encontrar o meu equilíbrio entre carreira e ser mãe. Pude me respeitar, aproveitar o meu momento, retomar as minhas atividades e, ainda, evoluir. Fui promovida assim que voltei da licença, me tornando diretora de área. Como mãe, descobri um senso de responsabilidade e amor que não sabia que existiam. Como profissional, me sinto mais segura na tomada de decisões e mais focada. Aprendi a priorizar as tarefas, a delegar e saber acompanhar melhor a evolução da equipe, e consequentemente me tornar cada vez mais produtiva e gerando melhores resultados. Hoje tenho muito orgulho de dizer que faço parte do comitê de diversidade da agência, por poder representar a liderança feminina e a maternidade, junto com outras mulheres tão fortes e um grupo de facto, tão diverso e inspirador. Durante esse momento de novos desafios em função do regime do home office, de tanto medo e incertezas, estamos gerado discussões para nos apoiar e dar dicas de como conciliar tudo e lidar com mais leveza consigo e com tudo.

Dentre tantas dificuldades e aprendizados que acontecem todos os dias, os desafios só reforçam a minha capacidade de enfrentar situações adversas e difíceis com muito mais força, foco e empatia. Não tem certo ou errado, mas é fato que cada mãe profissional precisa se ouvir e agir de acordo com o seu ritmo, as suas vontades e verdades.

Sei que represento a minoria, pois o cenário para as mães ainda é mais crítico onde as mulheres lutam por equidade salarial (a remuneração da mulher corresponde a 80% do que o homem ganha para desempenhar as mesmas funções. É assim no Brasil – segundo dados do IBGE, e também globalmente nos países de regime democrático, de acordo com registros do Fórum Econômico Mundial). Várias pesquisas indicam que, no mercado de trabalho, o panorama das profissionais que não têm filhos é bem diferente daquelas que são mães. Se entre homens e mulheres ainda há diferenças, entre homens, mulheres e mulheres com filhos a distância entre igualdade de oportunidades é ainda maior.

Ao levar em conta tudo isso, e apesar de todas as atribulações, posso afirmar que as conquistas vêm acontecendo, principalmente, por causa da forma como nós, mulheres, passamos a encarar o nosso papel como profissionais e mães. A reflexão que deixo aqui, e que vale não só para mulheres que são mães ou para as que pensam em ser um dia, mas também para todas as pessoas que lidam diretamente com mães: 

“A maternidade transforma. Nós, mães, desenvolvemos habilidades e instintos que nos tornam mais fortes, mais capazes. É fisiológico. Os medos e as inseguranças acontecem, claro. Mas ao invés de serem barreiras podem ser alavancas; tudo depende da forma como a sociedade lida e como cada um de nós se posiciona diante os desafios. Mães profissionais merecem respeito e confiança. Acredite, aposte e se surpreenda!”

Add a comment

Deixe um comentário