A educação sem futuro

O EAD é uma promessa e uma necessidade em tempos de revitalização da forma como se aprende e como se ensina.
A educação sem futuro A educação sem futuro

Todas as escolas estão fechadas. Alunos e suas famílias em casa, em um misto de sentimentos possíveis e muitos outros indescritíveis. Pela primeira vez em toda a história humana, as pessoas não têm respostas concretas, mesmo em um tempo de Internet livre onde se pode fazer todas as perguntas.

Não preciso dizer que há caos dentro dos lares e caos generalizado na mente das pessoas.

Governos não sabem o que fazer, e não conseguem esconder essa verdade inconveniente. Chefes de estado revelam seu desespero em discursos vazios e deslocados, cheios de afirmações que não se sustentam. O mundo está sob o domínio da incerteza. O mundo como o conhecíamos não existe mais. Nunca seremos os mesmos. Os velhos vão continuar a dizer que era melhor em seu tempo; os adultos terão de se reinventar sem saber como; os jovens talvez percam a vontade de se rebelar.

As crianças, sim, elas talvez sejam a nossa única esperança.

Esse é um daqueles momentos na história quando o espírito humano é testado em seu máximo. Uma batalha pela sobrevivência. Uma guerra por mais uma camada que precisa sair e mostrar o quão fundo é possível ir, se a gente for capaz de acreditar. Atualizar o “software” e abandonar uma versão nossa que não serve mais para esse tempo de revoluções instantâneas. Agora, o esforço de cada um de nós exige um tipo de união jamais visto.

o gênio, esse poder que deslumbra os olhos humanos, não é outra coisa senão a perseverança bem disfarçada.” – Johann Goethe

A educação nunca mais será a mesma. Nem mesmo a forma de se fazer negócios. Claro que não é tão simples assim. Não basta dizer que vai mudar e pronto. Não basta apenas forçar a barra e esperar que as pessoas sigam na “direção certa”. Ir para aonde? Fazer o quê, e com qual velocidade?

Por séculos acreditávamos que a educação era a nossa salvação.

Ela deveria nos alimentar, cuidar de nosso futuro, nos manter no caminho certo, apenas por ser o conjunto de conhecimentos adequado para garantir uma jornada tranquila, recheada de paisagens agradáveis. Com um diploma debaixo do braço as portas do céu se abriam. Hoje, infelizmente essa já não é mais a realidade. Como sempre acontece na história, uma curva se apresenta, exigindo que a velocidade diminua e que uma nova direção seja seguida. O que tínhamos guardado como verdade se desfaz, quase completamente. Esse “admirável mundo novo” demanda uma repentina troca de quase tudo que sustentava o nosso antigo jeito de viver. E isso não é negociável.

Nossos filhos não cabem mais na escola que existiu antes dessa pandemia.

Nenhum deles vai estudar da mesma forma. Pais, professores e alunos serão personagens de uma mudança drástica que não estava programada na agenda de ninguém. Um vírus, aparentemente simples, mudou as regras do jogo. Agora, todos, sem exceção, devem sacudir a poeira, limpar as teias de aranha, abrir portas e janelas para o ar entrar e se preparar uma experiência épica. Não há fórmulas prontas a serem vendidas para resolver os novos problemas. Vamos todos aprender juntos, reparando o avião em pleno voo.

Afinal, a vida nunca parou para ninguém tomar fôlego.

Daqui pra frente, governos, empresas e escolas não podem e não serão iguais ao que já vimos antes. Não funcionam mais como foi um dia. Experimentamos o sabor de uma nova forma de lidar com a vida, e parece que a única coisa que permanece será a velocidade crescente das mudanças.

Infelizmente, países como o Brasil pagam contas altas por adiar mudanças importantes em processos pedagógicos e na gestão de escolas públicas. Nas particulares a adaptação costuma acontecer um pouco menos demorada, mas sempre sai na frente. No geral, as mudanças serão obrigatórias no nível mundial. Não é um privilégio nosso, sul-americanos tupiniquins. Embora, sabermos que será mais doído e complexo para nós, brasileiros.

Ensino a distância é uma bandeira que tremula no horizonte.

Ela tem a sua importância, mas não se pode empurrar garganta abaixo um modelo de ensino que ninguém no mundo domina, e que exige estrutura e métodos bem elaborados e aplicados com inteligência, para gerar resultados realmente consistentes.

O EAD é uma promessa e uma necessidade em tempos de revitalização da forma como se aprende e como se ensina. No entanto, sabemos que os interesses de investidores que esperam que seu capital frutifique a qualquer custo, pode colocar o futuro da educação em risco, mais uma vez, como tem sido desde que a conhecemos. Uns privilegiados se dão bem, outros, se tiverem sorte, correm por fora e chegam a algum lugar de forma inesperada, mesmo tendo pago pelo direito de correr na pista como os outros.

Mais uma vez, como tem sido costume nas grandes revoluções, seremos obrigados a rever uma avalanche de conceitos se quisermos seguir em frente como sociedade. Porém, é possível perceber que o desafio maior pertence às escolas, todas elas, sejam públicas ou não. Crianças de todas as idades já não aprendem mais da mesma forma e na mesma velocidade como até bem recentemente. A velha fórmula com salas de aula cheias de alunos enfileirados e um professor rabiscando um quadro negro perdeu o sentido.

O mundo está em convulsão e esse balanço está colocando muitas coisas em lugares diferentes, dando novas perspectivas para velhas ideias, e isso, com certeza, é uma oportunidade única para as escolas, em parceria com famílias e governos, reescreverem a forma como se preparam jovens e crianças para a vida adulta.

A tela está praticamente em branco, à espera de traços que a definam.

Pode parecer estranho dizer isso, mas a força da Internet pode diminuir a distância entre pobres e ricos. O poder da Grande Rede pode ser útil para que as pessoas possam se unir em prol de uma transformação maciça das regras que definem como se faz educação nesse país. Talvez, a gente consiga entender o valor da inata criatividade infantil, já provada cientificamente, e perceber como poderemos participar mais ativamente da educação, a não apenas querer comprar uma promessa pronta, engessada e padronizada, extremamente frágil às mudanças que inevitavelmente nos pegam de surpresa pelas esquinas da vida.

Vai ser fácil? Não! Principalmente para os pobres e as minorias que são historicamente oprimidas.

Mas, apenas lamentar não muda as coisas. Precisamos trocar ideias e nos permitir experimentar coisas novas. Nos tornar abertos à arte poderosa da adaptação, aquilo que garantiu a sobrevivência de nossos antepassados, quando não haviam escolas, supermercados e nem caixas eletrônicos, mas o conhecimento que adultos transmitiam aos filhos, dando esperança de que venceriam mais um dia, que teriam alimento e que o seu conhecimento os protegeria, a despeito da certeza de serem biologicamente tão frágeis, em um mundo perigoso e inóspito. A fé de pais zelosos e o conhecimento que dividiam com seus descendentes nos trouxe até aqui.

Agora, temos que corrigir uma série de erros e continuar caminhando, seguindo a mesma fórmula simples: ensinar nossas crianças como o mundo funciona. Lembrando sempre que esse tal mundo muda cada vez mais rápido, e não há tempo para descansar. Por isso, é importante oferecer uma cultura de aprendizado na qual garanta independência para o aluno, e que ele experimente ideias e desenvolva conceitos. Vamos sofrer um pouco para aprender a lidar com as ferramentas digitais, mas será um preço muito pequeno para quem deseja ter um futuro diferente.

A educação sem futuro é exatamente essa que a conhecemos até “cinco minutos atrás”. Esse modelo antigo não dá conta de encantar ninguém mais. O cidadão desse momento precisa estar aberto para revoluções por minuto. Como toda criança está, até que a coloquem em uma caixa rígida, trancada por fora, e a peçam para pensar fora daquele lugar, imaginando como seria o ambiente externo ao que ela está “presa”. A nova educação é uma criança, acabou de nascer. Está dando seus primeiros passos. E, nesse momento, precisa de cuidados para seguir saudável e evoluir.

Entretanto, no caso dessa nova educação, a despeito de nossos maiores esforços, ela seguirá dando as cartas e exigindo que nós aprendamos a fazer novas e melhores escolhas.

Seremos capazes?!

Será preciso um diálogo profundo, reunindo governo, profissionais de educação, pais e alunos. Todos têm algo para contribuir. Como defende Sir Ken Robinson(que não precisa de credenciais), a educação tradicional, baseada no modelo industrial (que produz formandos em série, e que joga fora aqueles que não se encaixam no modelo, pois fogem ao padrão), já não funciona há muito tempo. Numa fábrica, o produto não se relaciona com seu produtor. Ele não oferece opinião sobre o processo. Ele simplesmente é moldado para ser o que se espera que seja. Caso contrário, é descartado por uma questão de não conformidade. Numa escola, a coisa precisa ser diferente. Cada criança tem a sua particularidade, e precisa interagir no processo de desenvolvimento de seu intelecto. Não se produz seres humanos em série. Todas as tentativas no passado redundaram em tragédia.

A educação precisa ser livre e aberta a experimentações, privilegiando traços que definem cada um dos alunos. Se houver um tipo de revolução apoiada por governos, que democratize o acesso à tecnologia, permitindo que todos possam acessar as mesmas informações, sem restrições, e que possam se alimentar física e emocionalmente de forma sadia, poderemos tornar esse mundo realmente um lugar onde teremos prazer em viver.

Se existe qualquer época em que alguém gostaria de nascer, não seria num tempo de revolução? Essa época, como todos as outras, é excelente se soubermos o que fazer com ela.” – Ralph Waldo Emerson

Educação é uma questão de propósito. Busca se educar quem acredita ter um. A educação precisa encantar quem está aprendendo. Conhecer nosso propósito complica e explica tudo. O passado muda de cor, o futuro que imaginávamos se desfaz bem na nossa frente, e o presente, sim, o presente justifica o seu nome. Conhecer o caminho é diferente de partir pra cima dele. Mas, só fazemos isso quando temos os motivos certos. E, não se engane, motivos não caem do céu, eles são uma briga de cada vez com a vida. Ela bate e você revida. Isso é trilhar o caminho!

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