Somos todos maus-caracteres na cama

Este texto não é sobre práticas sexuais de moral duvidosa. O ponto aqui é: para mudar a si mesmo, mude suas circunstâncias.

Em 2017, eu fui a uma palestra do Dr. Drauzio Varella em que ele contou como sai para correr todos os dias bem cedo. Ele disse que diariamente acorda, levanta da cama e põe a roupa de ginástica. Depois disso, ele pode escolher não correr (está chovendo muito, hoje tenho que chegar mais cedo ao trabalho etc.). Antes de levantar e trocar de roupa, não tem conversa.

A razão, segundo ele, é que todo mundo é mau-caráter na cama.

É trabalho árduo acordar cedo e sair para correr, mas é bem mais fácil depois que você já está desperto, em roupas de ginástica. Na cama quentinha, com sono, nos pijamas, é muito mais difícil resistir à tentação de uma soneca.

Não é que você seja simplesmente um mau-caráter preguiçoso. É que todos somos maus-caracteres na cama.

Para mudar a si mesmo, mude suas circunstâncias.

Não faça o compromisso “vou correr cedo todos os dias a partir de amanhã”, mas sim “vou vestir roupas de ginástica cedo todos os dias a partir de amanhã”. Você vai se sentir um bobo se estiver em roupas esportivas e não correr.

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Se você quer comer maçã ao invés de chocolate junto com o café da tarde, a decisão mais crítica não é na hora de escolher entre o chocolate e a maçã; é na hora de comprá-los.

Se você tiver à sua disposição a fruta e o doce, e se você tem uma queda por chocolate, será muito difícil escolher a maçã. Talvez no primeiro dia ou na primeira semana seja fácil, mas uma hora seu mau-caratismo vai bater mais forte.

Não é que você seja um mau-caráter guloso. É que todos somos maus-caracteres diante de um quitute.

19.02.14. Maçãs Fuji
Foto de Scott Bauer.

Para mudar a si mesmo, mude suas circunstâncias.

Não compre a maçã e o chocolate acreditando que sua força de vontade será mais forte do que as tentações. Não se dê a opção do chocolate. Compre apenas a maçã.

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Se você quer usar menos seu celular, deixe-o a mais de um braço de distância. Com ele no seu bolso ou na sua mão, é difícil não checar qualquer mensagem inútil que chega, ou mesmo checar se não há mensagens inúteis (enquanto tentamos desesperadamente nos convencer de que são úteis).

Não é que você seja um mau-caráter viciado. É que todos somos maus-caracteres com o celular na mão.

Ao invés de deixá-lo no bolso, deixe-o na mochila a dois metros de distância. Ao invés de carregá-lo do lado da cama, deixe-o carregando na cozinha.

E no caminho do quarto para a cozinha, deixe a roupa de corrida já pronta para ser vestida, camiseta, calção e tênis.

E do lado do celular, deixe a maçã.

Para mudar a si mesmo, mude suas circunstâncias.

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Para terminar, uma frasezinha do espanhol José Ortega y Gasset:

“Eu sou eu e minha circunstância, e se não salvo a ela, não salvo a mim”.

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