A Publicidade Vai Ao Cinema | O marketing invisível de “Amor por Contrato”

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A família Jones chega na nova vizinhança em um carro de luxo. De maneira ensaiada, recebem os vizinhos, que se impressionam com tudo: a casa, os filhos lindos, os vários itens modernos. Parecem um elenco de comercial. Não demora para que a estranha perfeição da família se revele. Os Jones são atores contratados por uma firma para fazer Marketing Invisível e vender um estilo de vida através do relacionamento com a vizinhança abastada. 

“Amor por Contrato” (The Joneses, 2009), disponível no NOW, tem uma ideia que hoje parece comum. Mas, feito em 2009, ele antecipou a estratégia publicitária de vender pela influência. O pôster do filme parece uma peça de outfit. Kate Jones (Demi Moore) é responsável pelos produtos de beleza e itens domésticos. Steve (David Duchovny), vende esporte, carros e muito golfe, enquanto os filhos, Mick (Ben Hollingsworth) e Jenn (Amber Heard), são os jovens responsáveis por influenciar o colégio onde estudam. 

Visto tantos anos depois, é curioso como o filme prevê o alcance do marketing de influência, ainda que esse desenho seja caricato. Em algum momento, Steve – inicialmente, o que menos vende entre os quatro – é cobrado: “se as pessoas quiserem ser você, vão querer o que você tem”.  

Steve, talvez, seja o elo mais humano do filme. Ou pelo menos o mais vulnerável. Amparado pelo imenso carisma de David Duchovny, suas tentativas fracassadas de tornar essa família algo minimamente real não surtem efeito. 

Escrito e dirigido por Derrick Borte, o filme carece de sarcasmo e ironia para tornar sua crítica amarga, corrosiva. Com o pé no freio, os caminhos escolhidos para mostrar o quanto o sonho americano é vazio cai em situações banais. 

A inquietação de Steve acha um muro intransponível de ambição em Kate. Mick e Jenn também são personagens que escondem problemas relacionados à sexualidade, mas não há desenvolvimento suficiente para que isso seja importante. 

O desequilíbrio entre o estilo de vida proposto pela família Jones, e as suas consequências, ficam num cômodo pequeno, sem que o expectador compre a ideia. 

A proposta de “Amor por Contrato” é maior do que o seu desenvolvimento. Vista nesta época dominada pelas redes sociais, personalidades influenciadores e uma vida que depende da aceitação coletiva para ser vivida, o filme serve como uma brincadeira com o futuro. Outros filmes como “Show de Truman”, e séries como Black Mirror, da Netflix, e a maravilhosa Years and Years, da HBO, exploraram melhor a interferência da tecnologia na sociedade.

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Mas dá pra perdoar “Amor por Contrato”. Em 2009, as redes sociais ensaiavam uma dominação mundial. E a transformação foi rápida! Em 10 anos, a gente saiu da ideia de uma família ser paga para influenciar um bairro e convencer a vizinhança a comprar produtos, para uma era fundamentada nessa ideia. Não é mais estranho. É uma profissão popular. As crianças querem ser influencers. 

Talvez, a família de “Amor por Contrato” seja o espelho do núcleo fictício do pop “O Dilema das Redes”. Se a mensagem do primeiro é mais inocente, não deixa de ser relevante. Em 2020, uma família é paga para viver uma vida perfeita e vender um estilo de vida. Isso assusta ou excita? 

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