Quando algum guru motivacional me manda sair da minha zona de conforto eu logo penso: “cara, ser mulher no mercado de trabalho hoje é tudo, menos algo confortável”. Uma mulher aprende cedo a ignorar piadas, cantadas, insinuações, ameaças, boicotes e assédios de todo tipo no ambiente de trabalho. Uma mulher lida com isto tudo ganhando 79% do salário de um homem na mesma função e dedicando 56% mais tempo em tarefas domésticas.
Embora esse discurso me enfureça, eu consigo entender o que leva um observador desatento a pensar que, de alguma forma, estamos acomodadas. Afinal, a maioria de nós apenas engole o choro e segue o baile. Sem reclamar. Sem fazer escândalo. Sem cobrar. Sem ser indelicada. Sem causar desconforto em ninguém além de nós mesmas
Por isso, a coisa mais revolucionária que nós mulheres podemos fazer por nós mesmas é reencontrar uma zona de conforto – mesmo que o preço para isso seja o desconforto das pessoas ao nosso redor. Diga mais “não” e menos “me desculpe”. Diga mais “eu ainda não terminei de falar” e menos “com licença”. Diga “eu mereço ganhar mais” até que você mesma acredite nisso. E, se puder, livre-se das pessoas que se mantêm confortáveis às custas do seu talento e do seu silêncio.
Nunca foi confortável ser mulher e a pandemia nos deixou ainda mais expostas. Retrocedemos 30 anos em participação no mercado de trabalho em apenas 8 meses. Vivemos um período com múltiplas camadas de dificuldade e que ainda vai deixar sequelas graves na saúde mental de todas nós. Por isso, acredite quando eu digo que você não precisa caçar ainda mais desconforto para si mesma. Nosso conforto é mais um dos direitos que precisamos defender com unhas e dentes. Fique confortável em estar confortável.
Muito bom! A realidade de ser mulher no mercado de trabalho é, realmente, muito difícil, desconfortável. Minha mulher mesmo passa por isso e conversamos constantemente sobre isso. Um texto que saiu no dia certo para trazer uma reflexão certa!