A vovozinha tá on!

Uma avó de 50 anos com independência financeira e energia contagiante? Conheça a Renata e descubra como ela desafia o preconceito etário. Leia mais.
A vovozinha tá on! A vovozinha tá on!

Seu shape é maneiro, tem independência financeira e adora uma festa como ninguém.

E pasme (ou não), ela ainda vai fazer 50 anos. E é avó. Tem uma filha de 21 anos e o filho, de 26, teve um menino ano retrasado. Tem a mesma idade que eu, que não tive filhos e é nona. Renata, que conheço desde os meus trinta e poucos anos, tem uma energia contagiante. Sempre teve. Semana passada, quando passei uns dias na sua casa, no litoral norte, ela soltou essa pérola: “vamos aproveitar hoje enquanto a vovozinha tá on!”. Eu ri e depois viajei. Se eu perguntasse para outras pessoas como seria essa vovozinha, acredito que muitos diriam que ela tem uma imagem semelhante com a dona Benta, da obra Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato. Virou personagem para a TV interpretada por Zilka Salaberry, na Globo, lá nos idos de 1970.

Renata tem um corpo lindo, já conquistou sua independência financeira, está aposentada, mas continua atuando no mercado de licenciamento de marcas e adora uma festa. Quantas avós você conhece com este mesmo perfil?

No mês passado eu tive a oportunidade de conhecer um estudo sobre longevidade que me fez pensar um pouco mais na minha velhice e refletir nas trocas que tenho com a Yára, minha mãe de 79 anos. Eu adoro seu nome e, por isso, gosto de chamá-la de Yára . Ela relutava. Mas cedeu, porque entendeu que não há nada de errado em eu chamá-la assim e não de mãe. Yára Linda. Meu avô a achou linda quando nasceu e lhe deu este nome composto.

A Revolução da Longevidade, o estudo feito pelo núcleo antena da AlmapBBDO – unidade criada pela agência que acompanha e antecipa tendências de comunicação, tecnologia e cultura –, em parceria com a QualiBest e com o Instituto de Pesquisas Favela Diz entrevistou, no total, 1.355 pessoas, com idades entre 20 e 85 anos. Quem o conduziu foi a “firmona” (como ela se referiu durante a apresentação), Rita Almeida, 62 anos, head de estratégia da agência.

Tem vezes que eu perco um pouco a paciência com a Yára. O que é uma pergunta simples ela consegue transformar num podcast de 3 minutos no WhatsApp. Ao invés de eu achar o máximo minha mãe ser digital, nem a velocidade 2 me anima a querer ouvir sua dúvida. Mas ao acompanhar o raciocínio da Rita de que a sociedade é preconceituosa em relação ao etarismo, e acompanhar alguns exemplos sobre isso, percebi como posso melhorar a relação Luli X Yára, que tenho tanto apreço.

Os exemplos preconceituosos:

– Na recusa de vagas de emprego.

– No olhar torto quando entra no ônibus.

– No “não levar em conta” a opinião e o sentimento da pessoa.

– Na falta de paciência em esperar o tempo da pessoa.

– Na forma de tratar a pessoa, como se não soubesse das coisas.

O estudo mostra que para muitos de nós, há muitos mitos em torno do envelhecer, e joga luz sobre várias oportunidades para empresas de produtos e serviços que queiram ter os 60+ entre os seus consumidores. Me chamou a atenção a fala de um dos personagens que apareceu num vídeo – tô revendo o uso da palavra velho depois deste dia, Rita:

– Eu quero manter o tesão pelas coisas.

Que frase linda de ouvir, sentir e processar.

Pirei também na campanha, que não conhecia, do Dia dos Namorados do ano passado, da Reserva. Vale muito a pena assisti-la.

Foram muitas informações interessantes durante a apresentação. Aqui cito algumas que continuam reverberando em mim, que há quase dez anos brinco com minha família ao dizer que quero envelhecer com dignidade – e vou!

Em três décadas seremos o sexto país mais velho do mundo.

O mercado 60+ representa 15% da população.

64% continuam sendo o alicerce financeiro da família.

71% continuam ativos após a aposentadoria.

46% afirmam estar viajando igual ou mais que há dez anos.

70% dos 50+ acessam a internet todos os dias.

A QualiBest entrevistou 1.055 pessoas, de idades entre 20 e 85 anos, das classes A, B e C de regiões brasileiras diversas, enquanto o Favela Diz falou com 300 pessoas de 50 a 85 anos, da comunidade de Paraisópolis, em São Paulo. Para a maioria delas, não conseguem mencionar marcas que se conectem com elas. Muito pelo contrário, quando tentam se conectar é através de suas fraquezas e vulnerabilidades, como remédios, planos de saúde e fraldas.

O estudo apontou que as pessoas mais velhas querem deixar de ser invisíveis para as marcas, que muitas campanhas publicitárias pensam o velho de um jeito velho. Eles querem “intergeracionalidade”, querem estar integrados aos jovens, fazer parte e não estar à parte.

Quando o netinho da Renata alcançar a adolescência, e ela já começou a se preparar agora para este momento, ela conta que vão surfar juntos. Alô, marqueteiros, vocês estão preparados para os 60+? Querem exemplo mais inspiracional do que este?


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