
O grupo musical Baiana System tem um disco que eu amo, chamado “O Futuro Não Demora”. Mas foi só depois de passar 10 dias em Austin, vivendo o SXSW, que entendi exatamente o que essa frase quer dizer. Realmente, o futuro não demora e está acontecendo enquanto eu escrevo e vocês leem esse texto.
É óbvio que, em um dos maiores festivais de inovação e criatividade do mundo, a gente vá ver coisas que explodam nossa cabeça. Durante o festival, vi e ouvi de tudo: robôs dançando no meio da praça, carros autônomos rodando como Uber no meio das ruas, palestras sobre computação quântica, sobre o futuro dos megaeventos, sobre como “não morrer” e até sobre o poder do absurdo dadaísta na comunicação.
Foi uma jornada incrível e angustiante ao mesmo tempo. Primeiramente incrível, porque vivi Austin com olhos de quem vai ao festival pela primeira vez. É difícil não se deixar maravilhar por cada pequeno detalhe de uma cidade que abraça e respira criatividade e inovação. A vontade era a de fotografar, filmar, gravar tudo e deixar cada momento guardado na memória.
Mas, por outro lado, a angústia também foi grande. O mundo atravessa um momento político e econômico complexo. Sei que o festival olha para o futuro, mas senti falta de conversas mais provocantes sobre o presente. Eu tinha expectativas de ouvir mais questionamentos sobre todas as decisões políticas e sociais que estão moldando esse mundo louco que estamos vivendo.
É bem difícil imaginar um amanhã inovador e criativo, sem uma coragem brutal e honesta de olhar para o hoje. E, pelo menos no jeito como eu enxergo o mundo, ainda há muito o que precisamos fazer agora, no presente, para promover um desenvolvimento tecnológico que realmente seja sustentável e justo para todos.
De qualquer forma, desembarquei de peito aberto, sabendo que eu sairia de lá com muito mais perguntas, do que respostas. E, apesar da frustração em relação às provocações (ou a falta delas), se tem algo que o SXSW me ensinou este ano, é que a resposta nunca está em uma única ideia, em um painel definitivo ou em um keynote brilhante.
A resposta sempre está na interseção. Em pegar um pouquinho de cada coisa. Em conectar pontos que, à primeira vista, parecem distantes. Um insight sobre inteligência artificial aqui, uma conversa sobre a reinvenção da mídia ali, uma provocação sobre nostalgia e futuro acolá. Essa é a verdadeira força do evento.
Não é sobre sair com certezas, mas sim com um olhar mais afiado e com mais repertório para desafiar narrativas estabelecidas e construir perspectivas próprias. Existe uma potência em conectar cada pequena experiência vivida em Austin, que não tem a ver com respostas prontas. O SXSW 2025 não trouxe verdades definitivas e nem as provocações mais densas que eu imaginei que iria encontrar. Mas entregou algo ainda mais valioso: um convite para pensar diferente, para abraçar o que é estranho e, acima de tudo, para continuar explorando. No final das contas, essa inquietação e essa vontade absurda de ser provocada talvez sejam as únicas respostas para construir esse futuro que, realmente, não demora.

Bruna Goularte, jornalista por formação e estrategista por paixão, é Gerente de Planejamento na agência NOVA, em Brasília, e acredita que boas ideias nascem da escuta, do repertório e da ousadia de experimentar.