Essa frase nunca fez tanto sentido para os designers quanto nesta semana. No dia 25 de março, o Chat GPT lançou uma atualização que facilita a criação de imagens com alta qualidade por meio da Sora. Até então, o Chat GPT utilizava o DALL·E para geração de imagens.
Com essa atualização, reacendeu-se uma intensa discussão entre profissionais da indústria criativa sobre a possível substituição de funções — como a do designer — pela inteligência artificial.
No epicentro do debate, estava o Studio Ghibli, conhecido por suas animações com estilo próprio, que teve seus traços replicados pela IA.
A internet foi inundada com imagens geradas por IA retratando pessoas comuns no estilo do Studio Ghibli. Isso acendeu a discussão sobre os limites entre arte e cópia: onde termina a criação artística e onde começa a mera reprodução?
Embora atual, essa discussão não é nova. Walter Benjamin, já em 1955, trouxe à tona esse tema com o ensaio A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Nele, argumenta que a capacidade de reproduzir tecnicamente uma obra deteriora sua “aura” — o que ele definia como o seu “aqui e agora”. A reprodução esvazia a singularidade e autenticidade da obra, substituindo seu valor de culto por um valor de exposição, onde o foco passa a ser a distribuição em massa e o faturamento sobre cópias.
Certamente Benjamin não poderia prever que, 70 anos depois, a reprodutibilidade técnica atingiria não apenas a obra em si, mas também o seu criador: o artista.
Mas será que é isso mesmo que estamos vivenciando?
A resposta é: não.
O que muda, ao meu ver, é a ferramenta.
Antes, usávamos lápis e papel. Depois, vieram softwares como Photoshop, Corel e Illustrator. Agora, temos a inteligência artificial.
Deixe um prompt aberto para que um leigo redija o que quiser que a IA crie — e nada relevante será gerado. O mesmo vale para drones profissionais ou colheitadeiras automatizadas: sem um operador qualificado, não há eficiência.
Com a IA, é igual. Ela precisa de um direcionamento claro, que deve representar uma estratégia. A IA não cria do nada: ela recompõe, adapta, reformula com base nas informações que nós, humanos, oferecemos.
A IA não criaria traços do Studio Ghibli sem antes ter sido alimentada por referências humanas.
A não ser que, um dia, evolua para uma inteligência consciente — mas, até o momento, isso continua sendo ficção científica.
Portanto, o que vejo é que a IA provoca um senso urgente de adaptação. Ela posiciona o ser humano no centro da inteligência — onde residem a criatividade, a essência, a alma e a unicidade que só nós somos capazes de produzir.
Se você acredita que design é apenas “apertar botões”, então, sim, você deveria estar preocupado.
Design — e qualquer processo criativo — é tudo, menos isso.
Não confunda o meio com a mensagem.
Os meios evoluem. Hoje é a IA, amanhã virá uma ferramenta mais avançada.
Mas a capacidade de criar e produzir a mensagem permanece exclusiva da mente humana.