Em dias de poucas certezas, paramos para pensar e refletir em tudo o que estamos vivendo. O quanto o mundo está estranho e doente. O quanto o silêncio modificou nossas rotinas, nos obrigando a criar adaptações diárias para suprir a saudade de quem está longe e trabalhar, sem neuroses, diante da perda de nossos referenciais.
Nesse cenário de abdicação e deslocamentos emocionais, heróis modernos ganham destaque: são os profissionais da saúde que lutam contra um vírus invisível, constatando o que já sabíamos há tempos: estamos inseridos em uma sociedade frágil, desestruturada e desigual.
A lista destes profissionais da linha de frente é grande. Médicos, enfermeiros , técnicos, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, maqueiros, motoristas das ambulâncias, equipes de higienização e desinfecção, entre tantos outros. Cuidadores que já sentem os prejuízos causados pelo combate à pandemia.
O inesperado alterou todas as rotinas. A carga horária, em muitos casos, está bem maior que a habitual. O diálogo entre esses profissionais gira em torno de apenas um tema: O Covid 19. Lazer e confraternização com a família ou amigos ficou no passado ou na memória. Uma memória saudosista da liberdade confiscada pelo isolamento social.
Um verdadeiro desafio que pode levar a uma saturação mental. Estão na linha de frente e fazem o elo entre os familiares dos pacientes e os serviços de saúde. Convivem com a dor ao presenciar os desfalques no time, perdendo companheiros de trabalho para um vírus cruel.
São acometidos por uma absurda carga emocional, que mistura ingredientes diversos: o medo de se infectar, o medo de contaminar parentes, o luto pela perda dos amigos de trabalho, a frustração e sensação de impotência quando perdem um paciente para o Coronavirus, além do esgotamento pelo excesso de atividades. Angústia, medo, insegurança e a solidão do afastamento do “eu”.
Dores que surgem em meio às dúvidas geradas pelo evento adverso. Suscetíveis ao desenvolvimento ou agravamento de uma Síndrome de Burnout que engloba a sensação de esgotamento, a perda do sentido de realização profissional e o distanciamento emocional. Fatores estressores e decisivos na urgência dos traumas psicológicos.
Nossos profissionais de saúde estão expostos ao desequilíbrio mental, uma vez que evidenciamos o aumento nos sintomas de ansiedade, perda da qualidade do sono, depressão, estresse, e tantos outros sintomas psicossomáticos. Apreensivos, encaram a luta e a pressão.
Sim, estamos com a vida por um fio. Esse desafio compreende a todos. Precisamos entender os nossos limites, olhar para o momento, dando a ele um sentido mais otimista e esperançoso. Não podemos fazer tudo por todo mundo. Mas se começar por nós, já será um excelente passo. O profissional precisa estar consciente que, para cuidar do outro, precisa desenvolver recursos e estratégias que o fortaleçam mental e fisicamente. Garantir horas suficientes de sono, buscar descansar entre os atendimentos ou plantões. Manter uma alimentação qualificada e saudável. Bem como reduzir o isolamento, utilizando de forma otimizada as tecnologias de comunicação para permanecer conectado aos familiares e a pessoas queridas. Essas são algumas dicas que podem contribuir para preservar a saúde mental durante a pandemia.
O mais importante é buscar, no meio do caos, refúgios mentais que tragam a sensação de prazer para a mente. Afinal, não há dúvidas que o mundo será outro após o Covid-19. Nós também seremos. Por isso, cuidar de quem cuida é um legado que devemos levar para a eternidade. Afinal, o momento passará e, certamente, terá o sentido que dermos a ele. O profissional da saúde quer dar sempre o seu melhor, mas o seu melhor é também estar bem consigo – cuidando do seu bem estar físico e emocional para que possa exercer a profissão com excelência e sem prejuízos.
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