Em 1991 o Guaraná Antarctica levou ao ar um dos jingles mais lembrados dos brasileiros – talvez um dos últimos de uma era na publicidade brasileira. Na época, a música foi produzida na MCR de Sérgio Campanelli e composta pelo músico César Brunetti, a partir de uma ideia de Nizan Guanaes. A peça da DM9DDB fez um sucesso tão grande – por causa de seu jingle – que acabou tendo inúmeras versões nas décadas seguintes (p.ex. em 2008 com Carlinhos Brown e 2011 com Claudia Leitte).
E hoje o mesmo rock com aquela cara de anos 50/60, Celly Campello e Jovem Guarda, voltou para fazer companhia à nossa quarentena. A roupagem musical foi atualizada mas, respeitosa, manteve a referência e deferência ao clássico original.
Quem canta o jingle é a ex-BBB20 Manu Gavassi, que também protagoniza cenas na tela. A agência responsável pelo novo filme é a Soko, que dirigiu a cantora em sua própria casa, transformada em setting de filmagem com cores vibrantes (produção da Hungry Man, direção de Carlão Busato).
Uma coisa me chama a atenção: o contraste entre a produção desse filme, que segue o visual, ritmo e qualidade de produção da publicidade vamos dizer “tradicional”, e os mais recentes filmes que esbarram no tema coronavirus/novas rotinas, boa parte deles com produção caseira e cara de lives e zooms (por causa das dificuldades de se gravar com uma média/grande equipe em tempos de distanciamento social). Não há aqui nenhum juízo de valor: peças que remetam à nossa nova realidade tem tudo a ganhar usando a estética e técnicas que dispomos no nosso dia-a-dia para falar com parentes e amigos. Já esse novo Guaraná é um filme leve e divertido, querendo “dar um tempo” no onipresente tema da quarentena, querendo escapar e “trocar o disco”. Faz todo sentido que essa necessidade de escapismo – muito justa – vá buscar referência em algo anterior à pandemia.
Confira abaixo essa nova versão e, logo depois, o original de 1991:
UPDATE: o diretor do filme, Carlão Busato (Hungry Man) postou o making of das filmagens. Dê uma checada:
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( ) Nova
(X) ORIGINAL
Ué, mas já não tinha rolado um remake desse comercial uns anos atras?
Exato. E esse é o ponto do post: o remake parte sempre do jingle. Ele é o núcleo nostálgico e afetivo que justifica sua regravação e relançamento em novas campanhas.
Aliás, isso acontece com todas canções que fazem sucesso (não precisa ser um jingle): são regravadas inúmeras vezes.
O interessante é isso: as pessoas reconhecem e gostam do jingle de um comercial, ficam com ele na cabeça e tal… mas não tem a mesma reação com, por exemplo, a cenografia, o figurino ou o acting de uma propaganda. O que estou dizendo não é que esses outros elementos de um filme são menos importantes; é apenas que, quando uma música transborda pra fora de uma peça, ela cola no ouvido e acaba se tornando maior do que o comercial original (a música tem que ser realmente boa). Você pode, por exemplo, querer cantar o jingle do Guaraná no chuveiro, mas será que vai ficar relembrando a direção de fotografia enquanto toma banho? ;)
No fim, é ele: o jingle!
É ele quem, sozinho, ultrapassa o comercial original e ganha vida própria na memória das pessoas. Aliás, música é sempre sobre memória, afetos e earworming (o termo em inglês que designa quando ficamos com uma melodia grudada na cabeça, como uma minhoca se escondendo no ouvido – earworm).