Pensar para escrever? Ou escrever para pensar?

Escrevemos para outros. Mas antes, para nós mesmos. Escrever é raciocinar. E como fica isso na era das Inteligências Artificiais?
Pensar para escrever? Ou escrever para pensar? Pensar para escrever? Ou escrever para pensar?

A escrita, mesmo depois de milhares de anos de desenvolvimento tecnológico, ainda é o melhor método de passar uma coisa que está na sua cabeça para a cabeça de outra pessoa. E, mais recentemente, não necessariamente só entre pessoas, já que as IA resolveram entrar definitivamente nessa conversa, como o agora onipresente chatGPT.

Mas a escrita cumpre uma outra função que nem sempre nos damos conta.

O ato de escrever é, antes de mais nada, um estímulo ao raciocínio de quem está escrevendo. Escrever é embrulhar pra presente, é formatar em palavras algo que existe em nossa mente em forma de pensamento.

Por exemplo, para escrever esse texto que você está lendo nesse exato momento, eu precisei organizar minhas ideias para tentar deixá-las mais claras pra você. E é por isso que todos nós escrevemos, e apagamos, e reescrevemos várias vezes. Não apenas para escolher as palavras e frases certas, mas muitas vezes para polir o próprio raciocínio.

Você começa escrever sobre frutas, fala sobre a banana, mas no meio do caminho descobre que maças são melhores para o seu texto. Ou, ao invés de frutas, talvez seja melhor escrever sobre nutrição.

Escrever para pensar.

Quem nunca escreveu uma carta que, ao final, serviu para deixar as coisas mais claras na sua cabeça? Você nem chegou a enviá-la ainda, mas a escrita já cumpriu com um primeiro propósito: organizou seu pensamento. É mais ou menos essa a ideia por trás dos diários, dos jornais pessoais. É um registro, mas antes de mais nada, uma reflexão.

Um bom escritor não pensa só para depois escrever o que pensava, como uma espécie de transcrição. Um bom escritor quase sempre vai descobrir coisas novas no processo de escrever.

Isso ☝️ em modo IA 👇

E acho que esse insight é um divisor de propósitos no uso de IA para textos.

Usar IA para terceirizar a produção de um texto pode ser uma opção quando você tem uma tarefa técnica, como escrever uma bula de remédio, um disclaimer, citar processos judiciais, etc. São casos de pouco raciocínio, tarefas quase braçais.

Mas para fazer um texto mais interessante para quem lê, geralmente a IA vai funcionar muito mais como fonte de inspiração do que como produto final.

Eu tenho usado o chat muito mais pra ideation do que para redação. Por exemplo, ao invês de comandar

“escreva um texto sobre diversidade usando variedades de frutas como analogia”

tenho preferido pedir

“quais seriam boas analogias para um texto sobre diversidade?”

Tenho preferido dividir meus problemas/desafios do que do que pedir coisas específicas.

Essa é uma lição que aprendi muitos anos atrás, durante uma reunião de re-briefing com um alto executivo de marketing, a quem ouvi orientando seu time:

“Não diga o que eles precisam fazer. Diga qual o problema que precisamos resolver – e deixe que eles digam como”.

Essa abordagem do QUE vs COMO é muito inteligente, porque separa uma mera execução de uma possível sacada que ninguém poderia imaginar.

Escrevo. Logo, penso. Logo, existo.

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