Essa palavra me acompanhou na escalada ao Denali. Sabe por que? Porque no Alasca uma das atividades mais fortes é a aviação. A sensação é de que todo mundo sabe pilotar aqueles aviões turboélice. Pra ir pra lá e pra cá, só de avião.
Nesses aviões tudo é analógico. Os comandos são manuais, alavancas em sua maioria. Óleo para fazer subir, dois tapinhas no vidro do visor e o ponteiro volta a funcionar. Manivela é mato nessa máquina. É pura arte.
O fotógafro e cinegrafista Gabriel Tarso no avião que nos retirou do Campo Base do Monte Denali
Vinil é analógico. Outra arte. Desde sempre temos toca-discos e amplificadores valvulados na sala de casa. Certeza que essa informação analógica influenciou o consumo de conteúdo dos nossos filhos. De ir a um show e estar lá, presente de corpo e alma, até sentar na frente da vitrola para ouvir um álbum.
Lembro do som da máquina de escrever vindo do corredor. Era meu avô datilografando, dedo a dedo, seus textos, defesas, discursos e crônicas. Aquele som me acompanha até hoje. Sempre que teclo no Mac, ouço o clack clack analógico.
Corta pra outro dia.
“Gustavo, chegou um telegrama pra você”, disse Patrícia, minha mulher. Telegrama? Pensei na noite do último porre homérico. As vezes tudo que dividi desse porre por aqui e ali foi fruto da minha imaginação e a real é que cruzei com o Temer na rua, e aí tu sabe né?… Me pegaram! Suei frio com o telegrama na mão.
Analógico.
Abri com calma, tipo youtuber fazendo unboxing de torradeira que controla a casa. Suava. Fiquei com medo de borrar o telegrama de tanto suor. Lavei as mãos. Retomei.
Quase enfartei com uma explosão de emoções que passou da felicidade suprema ao riso maroto com pitadas de lágrimas análogicas. Um telegrama fez uma semana difícil e intensa desaparecer. Sumiu. Já foi.
Quem escreveu sabe que meu coração é canceriano-ítalo-brasileiro. Quem escreveu sabe que a vida precisa de poesia analógica.
Por mais pessoas analógicas nesse mundo, como vovô, como o marceneiro que fez o móvel do meu toca-disco, como a Nataly e os pilotos do Alasca, e como o Luiz Melodia, que lá em 1976, cravou essa: “se a gente falasse menos, talvez compreendesse mais”.
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Eu também ando nessa de desacelerar, de dar uns passinhos pra trás. Obrigado pelo post Z ;)
Abraço WB, saudade dos nossos ótimos devaneios ao vivo!
Me avise quando descer das montanhas e estiver em SP ;)
O digital é prático, mas o analógico é apaixonante, e como toda paixão, exige tempo e atenção.
Exige tempo e atenção = coisas boas da vida!