Você certamente já ouviu aquela frase do Nietzsche que fala sobre resiliência, “o que não te mata, te faz mais forte”, né? Pois é, na biologia, ela é de fato, literal.
Neste post vamos falar um pouco sobre a hormese, um processo celular em que os organismos reajem a pequenas agressões ficando ainda mais fortes e preparados para lidar com elas.
Um pouquinho do mal, faz bem.
As vacinas são um exemplo. Você injeta um pouquinho da doença… e desenvolve imunidade à ela.
Os exercícios físicos também funcionam da mesma maneira: você destrói um pouquinho dos seus músculos e ossos… e eles se regeneram ainda mais fortes. Seu corpo é inteligente e entende que por algum motivo você está precisando usá-los com mais intensidade e aí vai construindo uma estrutura muscular e esquelética mais reforçada.
É um truque de adaptação sensacional que a evolução nos deu. Um superpoder de reação, uma regeneração otimizada. Afinal, você não apenas se recupera do trauma, você fica ainda MELHOR.
Outros exemplos são:
- um pouquinho de exposição ao sol (produção de vitamina D, entre outros benefícios)
- um pouquinho de água gelada durante o banho (o choque térmico fortalece o sistema imunológico)
- um pouquinho de jejum (o jejum intermitente, a partir de 15 horas, inicia diversos processos benéficos como a cetose e a autofagia)
- um pouquinho de toxinas (diversos vegetais, considerados como “super alimentos”, possuem toxinas para espantar predadores, mas acabam desencadeando reações extremamente benéficas ao organismo humano)
- um pouquinho de calor (saunas ou exposição de atletas a condições de clima quente para ganharem resistência e acostumarem o corpo a trabalhar em condições mais extremas)
- etc
É interessante notar que, pensando dessa forma, nada é 100% ruim ou bom. Veneno ou remédio. Um pouquinho faz super bem, mas um montão, faz super mal. Ou seja, como dizia o médico e alquimista suíço Paracelso já no século 17, “só a dose faz o veneno”.
Em outras palavras, um pouquinho de stress, de incômodo, pode ser bom. Na verdade, pode ser ótimo, porque o resultado é uma condição final MELHOR do que a inicial. É mais do que resiliência, que é a capacidade de absorver o golpe. No caso da hormese, o indivíduo absorve e fica melhor do que antes.
Não só no corpo. Um ensinamento pra vida.
E pensando assim, mais conceitualmente e extrapolando o mundo biológico, a hormese também faz todo sentido em outros aspectos da vida, mais mentais e comportamentais.
Será que você consegue refletir e identificar esse “efeito hormético” na sua vida?
No trabalho? Algum fator estressante, mas que acabou servindo para interromper uma inércia? Talvez uma pressão por causa de prazo, mas que acabou te ajudando a trabalhar de uma forma mais eficiente? Ou um feedback dolorido, difícil de engolir, mas que depois se provou de fato verdadeiro e útil para o seu crescimento profissional?
Ou em algum relacionamento, talvez um pouquinho do veneno do ciúme, ou um pouquinho de saudade, que acabou servindo para valorizar certas coisas que estavam ficando meio invisíveis? Ou um pouquinho de choro e tristeza, mas que serviram para você ficar mais leve e menos dramático?
Um pouquinho de dívida, para aprender a se organizar melhor financeiramente?
Enfim, acho que você já percebeu onde quero chegar.
A hormese é também na verdade, um modelo mental. Uma filosofia de vida. Às vezes, vale à pena se expor a pequenas doses de dor e desconforto para crescer, para ficar mais forte. É uma lição que a natureza nos ensina e que já está dentro de você desde que nasceu. E que dá para usar na maneira como interpretamos os desafios que aparecem pela frente.
Se lesionou? Tomou uma bronca? Um pé na bunda? Tá tudo muito confortável? Hormese nisso!
Excelente texto! Apenas uma pequena correção: Paracelso proferiu a famosa frase em 1538 (século 16).
O termo “roubar” não caiu bem no título (chamada) do texto.
A intenção foi apenas ser uma chamada bem humorada, seguindo o tom que costumamos usar por aqui. Mas não custa nada alterar, vamos trocar. Obrigado pela sua sugestão Dr. Silvio!