Deixe-me começar dizendo que está tudo bem estar em pânico. Tudo bem se você virou uma garrafa de vinho em uma tarde de terça-feira. Tudo bem se você decidiu refazer seu undercut com uma gillette. Tudo bem se você xingou o Biroliro em alguma rede social. Aos home workers e estudantes EAD tudo bem procrastinar até o último segundo.
Ninguém espera que vivamos nossas vidas como se nada estivesse acontecendo, porque algo está sim acontecendo. Dito isso, nossas instruções são claras: lavar as mãos, evitar tocar no rosto, manter distância de outras pessoas e, na medida do possível, ficar em casa.
Infelizmente não há muito que podemos fazer ativamente a não ser nos prevenir. Ter a ciência de que estamos fazendo tudo ao nosso alcance para minimizar os danos causados por essa pandemia é a chave para alimentar a chama da paz de espírito necessária para sobreviver a esse período.
Cada um leva seu tempo e passa pelo seu processo para aceitar que as previsões são de que isso vai durar mais uns bons meses. Como alguém que estava vivendo uma quarentena técnica desde o início do ano, vim trazer meu relato de como encarei esse processo.
Na primeira semana de 2020 fui mais uma vez dispensada do meu emprego pelo famoso corte de gastos. Ao longo das duas ruas que tinha que percorrer para voltar para casa tive todo tipo de paranoia imaginável e inimaginável.
Estava preparada para retornar aos velhos hábitos de acordar tarde, passar o dia na cama me lamentando e cultivando uma alimentação à base de fast food que eu não poderia pagar.
Felizmente esse não foi meu primeiro rodeio, e logo percebi que o mundo não iria parar de girar e muito menos começaria a girar na direção oposta me devolvendo à tão arrependida adolescência para que eu reparasse todos os meus erros.
Eis os fatos: obrigada a ficar em casa, falta de verba para fazer qualquer coisa, ciente de que fiz tudo ao meu alcance e que o que aconteceu não tem mais volta.
Levemente similar à situação que nos encontramos desde que o vírus chegou à nossa querida terrinha, com exceção é claro do absoluto pânico, desemprego em massa e se tratar de uma circunstância delicada sendo administrada por um completo imbecil.
Certo, isso com certeza acrescentou um peso à minha saúde mental que já estava abalada, mas, na prática, minha condição permaneceria a mesma, então tudo o que precisei fazer foi aceitar a nova realidade.
O primeiro passo foi silenciar algumas palavras da internet, afinal aceitar a realidade não significa querer ser relembrada a todo instante de que o mundo está um caos e temos um presidente que não sabe o que está fazendo.
O segundo passo foi aproveitar os cursos gratuitos que várias plataformas têm disponibilizado para ajudar alguns desocupados a incrementar seu currículo. Aqui me repito: tudo bem não ser produtivo, ninguém precisa sair da quarentena falando dois novos idiomas, mas é bom saber que essa é uma possibilidade.
O terceiro passo foi me atirar aos braços de projetos “do it yourself”, fazer pesquisas que há tempos queria ter feito, começar a praticar exercícios, permitir ser reconfortada através de chamadas de vídeo, fazer planos para o futuro. Basicamente fazer do meu tempo o que eu bem entendesse porque qualquer coisa é melhor que nada.
Enfim, passei tempo demais sentindo pena de mim mesma, passei tanto tempo me sentindo mal que cheguei a um ponto que não tinha mais sobre o que lamentar e só o que restava era seguir em frente.
Chore se tiver que chorar, durma de conchinha com a tristeza e com a solidão, deixe que o medo sussurre no seu ouvido todos os piores cenários possíveis, mas lembre-se: quando não houver mais cenários imagináveis abra a janela e veja que durante todo esse tempo o Sol insistiu em nascer. E renasça.
É verdade, ter uma pessoa totalmente desequilibrada e desqualificada, à frente da presidência da república é o que mais me causa pânico, mas enfim, tudo tem um fim.
Bárbara, as suas atitudes tem um quê de estóicas: aceitar a realidade como ela é (ou está) e mudar o que está ao seu alcance para melhor. Somos responsáveis apenas pelo que podemos mudar; e quando tomamos consciência disso, a libertação acontece em todas as áreas da nossa vida.
Sua reflexão a respeito da situação atual é ótima e nos convida a pensar.
Estoicismo ?? ?
Muito bom Bárbara! Me identifiquei bastante com o relato! Indico o livro O Obstáculo é o Caminho, do Ryan Holiday. Me ajudou e segue me ajudando muito no processo!
Oi, Bárbara. Lamento a sua situação. Só achei desnecessária essa menção ao “completo imbecil”, pois desnatura o sentimento de positividade q vc tenta passar no texto. A propósito, será q ñ é justamente esse tipo de ressentimento e visão de mundo q está acarretando o insucesso de suas aspirações profissionais?
Muito bom Bárbara, é o que estamos precisando no momento ;) Obrigado!