Muito já mencionado aqui (1,2,3), sobre a complexidade e propósito demandados cada vez mais pelos Millennials e Geração Z. Esse comportamento reverbera em todas as partes da sociedade, inclusive na música. Álbuns conceituais e visuais são frutos desses posicionamentos.
Álbuns conceituais são aqueles criados com um propósito ou temática específica, como o empoderamento feminino no álbum homônimo de Beyoncé. Apesar de parecer inovador, esse conceito não é recente; data dos anos 40, a exemplo do álbum Dust Bowl Ballads, além de ter sido popularizado por Frank Sinatra.
Eles chegam ao mainstream contemporâneo com o homônimo de Beyoncé, em 2013, que também era visual: para as 13 faixas, 13 videoclipes. Esse movimento foi muito arriscado, visto que os streams recém começavam a se popularizar e o comportamento padrão era de singles; poucas pessoas consumiam uma obra inteira e analisavam toda a sua complexidade.
Junto com o comportamento de single existia uma crescente demanda por conteúdos politizados e mais complexos, que gerassem boas discussões em mesas de bar, que nos obrigassem a parar, analisar, refletir e dialogar. É sobre experiência e pertencimento, que cada “Era” do artista entrega. Esses dois comportamentos levaram os artistas a focarem muito mais nas turnês multimilionárias do que na venda de streamings (que paga aproximadamente US$ 4,00 a cada 1.000 plays), por exemplo.
A ideia por trás de um álbum conceitual é fugir do popular, já que demanda mais do ouvinte. Alguns motivos desses álbuns serem tão consumidos por jovens podem ser analisados na prática.
Experiência: além das turnês, temos também os filmes, que muitas vezes acompanham esses tipos de álbum. Black Is King, álbum visual de The Gift, por exemplo, entrega uma visão do continente africano pelos olhos de diversos diretores/criativos negros, produzido também por Beyoncé.
Complexidade: Álbuns conceituais são repletos de referências, gerando uma complexidade e densidade consideráveis. O desafio para o entendimento gera, além de diversão, inúmeras threads explicativas no Twitter, a fim de ensinar ou debater sobre pontos abordados pelo artista. Cada vez mais buscamos conteúdos marcantes, úteis e atemporais, exatamente o oposto dos singles que figuram no topo do Spotify. Queremos algo que gere identificação, como empoderamento feminino ou sexual. Algo que nos ensine, como a sonoridade africana abordada constantemente por Beyoncé (ela de novo). Algo que não tenha data de validade, não queremos só mais um “Closer“, mas queremos também músicas que além de serem boas de ouvir, sejam boas para refletir.
Propósito: Muitos álbuns conceituais já abordam questões políticas. Cada vez mais entendemos que tudo é político, não faz mais sentido para os jovens ouvirem cantores que sao percebidos como pessoas ruins, ou os famosos “cancelados” (mas cada caso é um caso, um exemplo é Anitta, cancelada diversas vezes e continua crescendo em número de seguidores em todas as plataformas). Buscamos também aprendizado por meio desses álbuns. Foi em Flawless que eu conheci a autora Chimamanda e suas obras, por exemplo.
Pertencimento: O pertencimento é uma consequência dos três fatores abordados acima. Um álbum que aborde uma mesma temática, e que exige que se escute todo em sequência, gera um pertencimento, devido à imersão necessária. Gera engajamento devido à conversação necessária para entender e enriquecer a obra.