Para começar, eu gosto de BBB! Ou gostava? Estou confuso. Nosso relacionamento está meio desgastado, confesso.
E também gostaria de já, de antemão, me posicionar e dizer que este não é um texto de chatonildos intelectuais cabeções que ficam o tempo inteiro dizendo que BBB não é igual a ler os Lusíadas ou ver um filme na Mostra Internacional de Cinema. Entretenimento não intelectual é legal também e pronto.
Eu vejo futebol e não saio da sala escrevendo uma tese de mestrado, nem recitando um poema.
Se não gostar, vá assistir Cidadão Kane e tomar um chá de boldo.
Este texto não é sobre o que BBB não agrega, é sobre o que desagrega.
Não sou hipócrita não, durante muitas noites, eu já coloquei meu cérebro em modo avião e assisti o nosso famigerado reality show que coloca pessoas confinadas em uma casa para entrarem em conflito. É isso mesmo, para entrarem em conflito, por que afinal, a paz não dá audiência.
E eu pergunto se temos cura, porque o BBB nos dias de hoje mais parece uma pandemia.
BBB virou um The Walking Dead da vida real, onde nós somos os zumbis doentes assistindo os humanos que se matam por falta de humanidade.
Muita gente assiste e por causa disso, tem marcas que patrocinam, e por causa disso, gera muito dinheiro. Mas o que estamos vendo como conteúdo? O que o dinheiro está pagando? Como as marcas estão se associando?
É talvez o único programa que não tem sexo, não tem drogas, não tem violência, mas eu não deixaria meus filhos verem se tivessem 10 ou 12 anos de idade.
Como minha filha tem 2 aninhos, eu tenho certeza que os Trolls, Nemo e o Bita não entrarão em uma casa juntos para se xingar. Tô tranquilo por enquanto, UFA!
O programa perdeu a leveza. Perdeu o humor. Não tem nem um cheirinho de empatia, nem uma migalha de humanidade. O programa está doente, com febre, com dengue, picado pelo mosquito da mesquinharia humana.
Lá dentro, é tiro, porrada, bomba e vários palavrões. Reflexo do aqui fora, piorado. Aliás, é um reflexo manchado.
Como ainda nós assistimos a um programa que as pessoas são selecionadas cuidadosamente para que tenham conflito e se xinguem? Como as marcas patrocinam um programa cheio de cancelamentos, crises de depressão, brigas e palavrões, levando pessoas ao extremo?
Discutir a toxicidade de programas de entretenimento como o Big Brother Brasil (BBB) envolve analisar como esses programas podem influenciar o nosso comportamento e percepção social.
E acho que influencia e muito, negativamente. As brigas se estendem para as redes sociais, num politiquismo fervoroso que parece Lula X Bolsonaro.
O que surge no BBB muitas vezes serve de pauta para discussões e levantamento de questões importantes que a sociedade deveria sim discutir mais, como racismo, misoginia, entre outros, mas o formato disso é deprimente.
Daqui a pouco irão liberar violência porque cabe uma cota de patrocínio para o MMA, ou para Dorflex.
O programa cresce em dinheiro, mas não cresce em propósito, nem em humanismo.
A audiência é recorde histórico, a votação é recorde histórico, as marcas e patrocínios em valores são recorde histórico. A Globo descobriu uma mina de ouro que jorra o pior de nós.
O BBB definitivamente tem o perfil do babaca competente. Aquele chefe que sabe muito e entrega muito tecnicamente, mas é um babaca desumano, triturador de ossos e sonhos.
Eu entendo que por ser um reality show, um show da realidade, tem coisas que são controláveis e outras que são incontroláveis.
E sobre a controláveis, o BBB busca o contato, como se diz no futebol.
Até Tadeu Schmidt que é ou parece ser um cara muito bacana, do bem, apresenta um programa que tem O JOGO DA DISCÓRDIA, que tem gente sendo banhada em tinta por que é a pior pessoa do mundo, ou gente rasgando a carta da família um do outro.
É um ensaio sobre a Cegueira de Saramago misturado com Jogos Vorazes. Tem promoção de conflitos, comportamento antissocial como exposição constante a traições, intrigas, manipulação, sugerindo que tais ações são aceitáveis para alcançar objetivos pessoais. Às vezes até o foco em drama pessoal com ênfase em desavenças pessoais reduz a oportunidade para discussões mais profundas ou educativas, limitando o potencial intelectual e social do programa.
A minha sensação é que é uma exploração da pobreza de espírito humana, por que ao destacar os aspectos mais mesquinhos da interação entre pessoas, o programa perpetua uma visão negativa da natureza humana. Sensacionalismo, falta de empatia, superficialidade vem de bônus. O programa vem mexendo com a saúde mental das pessoas, deixando pessoas doentes, fazendo as pessoas ficarem mal.
Ah, tem a cultura do cancelamento, que é simplesmente um tsunami de ódio e boicote a alguém ou a carreira de alguém. Karol com K ganhou documentário depois para ajudar a melhorar a imagem. Vão ter que fazer da Vanessa Lopes, Abravanel, Rodriguinho, Wanessa Camargo e Davi. É um documentário a dar com pau, hein!?
E me intriga saber que as marcas acreditam que patrocinar a cota do BBB é o projeto mais criativo e diferenciado do mercado, mostrando seus resultados de vendas e de branding. Mas seus ppts estão cheios de sangue ou de lágrimas.
De fato, parece que nossa publicidade e criatividade estão na xepa faz um tempo. Ou é tipo um bom moço andando com má influência.
Desde a Roma antiga os seres humanos já pagavam ingresso para ver homens lutando entre si e com leões, sendo esquartejados por suas espadas e suas ignorâncias.
Mas desde Roma não evoluímos nada? A ignorância evoluiu, agora ela até tem o direito de votar em quem morre antes.
As marcas tem ESG, “se preocupam com a sociedade”. Mas pensa bem… A consciência corporativa e social vai até um limite. Você acha que não é bom ter seu logo na festinha dos ensanguentados, dos deprimidos, dos cancelados?
Gera vendas, trend topics no antigo twitter e post no linkedin. Tô dentro!
A marca que fala de ESG e patrocina o BBB é que nem jovem que trabalha em ONG, mas não cumprimenta o porteiro.
Calma, o telespectador sabe diferenciar a briga e a publicidade, não é culpa da marca. Eu gostaria que os marketeiros também soubessem diferenciar tanta coisa, mas nem tudo que a gente quer a gente tem, né!?
Empresas com fortes compromissos com responsabilidade social podem encontrar contradições ao apoiar um programa que é percebido como promovendo valores negativos. Isso pode minar esforços de construção de uma imagem corporativa responsável e ética.
BBB parece uma pandemia sem vacina e sem máscara. Estamos confinados e isolados dentro de uma chacina de valores humanos.
Será que tem cura?
Ah vá! Quem quer saber disso…?
A gente gosta de confusão e de fofoca, né?
É importante dizer que as opiniões sobre programas como o BBB podem variar amplamente, refletindo uma gama de perspectivas pessoais.
Mas se você não concordar comigo, tá tudo bem, a gente pode “BBBtizar” a conversa.
– Filha, vem ver TV com o papai, vem?
– Não filha, zumbi não pode ainda, vamos ver o Nemo.
Continue a nadar… continue a nadar….
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bravo!!