
O SXSW continua sendo um dos eventos mais pulsantes do mundo para quem quer entender o futuro da inovação. Austin ferve, as ruas estão cheias de executivos, fundadores e criativos em busca de conversas que não aconteceriam em nenhum outro lugar
Mas, enquanto as conexões seguem intensas, o conteúdo do evento deixa uma sensação estranha. A inovação avança, mas o debate está cada vez mais previsível.
A inteligência artificial dominou praticamente todas as discussões. Faz sentido, claro. Mas ao transformar a agenda em um monólogo sobre IA, o SXSW deixou para trás temas que até pouco tempo eram essenciais.
ESG? Impacto social? O que a Ásia e em especial a China vem fazendo? Quase sumiram da pauta.
O que antes era um festival de múltiplas vozes virou um palco para eficiência, escalabilidade e novas formas de monetizar tecnologia no viés puramente americano. Se antes o SXSW olhava para o impacto cultural da inovação, agora parece cada vez mais absorvido pela lógica do Vale do Silício.
O curioso é que as discussões mais ricas seguem acontecendo – mas fora dos palcos oficiais.
Nos eventos paralelos, nos cafés lotados, nos encontros casuais que viram conversas inesperadas. Esses momentos ainda carregam a alma do SXSW. Mas até quando isso será suficiente?
Para quem trabalha com marcas, tecnologia e inovação no Brasil, isso importa. O SXSW sempre foi um radar de tendências que impactam o mercado global, e uma visão mais estreita sobre o futuro reverbera por aqui também.
Se o evento quiser continuar relevante, precisa recuperar sua pluralidade.
Porque a inovação real não acontece quando todo mundo concorda. Ela precisa de atrito, do desconforto de encarar algo inesperado.
O futuro nunca foi uma linha reta traçada pelo Vale do Silício.
E se queremos que ele continue sendo um espaço de múltiplas direções, está na hora de provocar de novo.
Em 2026, o evento muda de endereço. Mas será que vai mudar de mentalidade também? Porque se nada mudar, a inovação não vai apenas trocar de lugar – ela pode escapar de Austin de vez.
Sobre o Autor

Herick Ferreira, Head of Growth da CBA B+G
Sócio e Head de Growth na CBA B+G, empresa internacional de design que atua com marcas como Nestlé, KitKat, Heineken, Braskem, Colgate, Quinto Andar e outras que fazem parte do dia a dia de milhões de brasileiros e latinos. Palestrante, conselheiro e mentor de iniciativas de inovação e startups.
Acredita que o design pode ser usado como alavanca nas mais variadas áreas das empresas, por isso, atua diariamente despertando em lideranças o interesse pelo uso do design como catalisador de transformações.