Empresa admite que fazia “escuta ativa” usando celulares de consumidores

Recentemente, a empresa de marketing CMG Local Solutions causou alvoroço ao sugerir que tinha acesso a conversas privadas das pessoas, coletando dados através dos microfones de telefones, TVs e outros eletrônicos pessoais.
Empresa de Mkt Digital CMG admite que fazia "escuta ativa" usando celulares de consumidores para direcionar anúncios Empresa de Mkt Digital CMG admite que fazia "escuta ativa" usando celulares de consumidores para direcionar anúncios

Você já passou por isso: falar sobre um casaco vermelho e, de repente, ver anúncios de casacos vermelhos por todo lado. Essa sensação de estar sendo ouvido pelos nossos dispositivos inteligentes é algo que sempre nos deixou meio desconfiados.

Na semana passada, a gigante de mídia Cox Media Group CMG Local Solutions causou alvoroço ao sugerir que tinha acesso a conversas privadas das pessoas, coletando dados através dos microfones de telefones, TVs e outros eletrônicos pessoais. A notícia, divulgada inicialmente pela 404 Media, revelou que a CMG usava essas conversas para direcionar anúncios.

Escuta Ativa: A Fronteira da Privacidade

No site da CMG, uma afirmação preocupante se destacava:

“É verdade. Seus dispositivos estão ouvindo você.”

A empresa descreveu sua tecnologia de “Escuta Ativa” como capaz de detectar conversas relevantes através de inteligência artificial (IA), em smartphones e smart TVs, entre outros dispositivos.

O blog da empresa falava abertamente sobre o desejo dos anunciantes de ouvir cada sussurro dos consumidores, transformando-os em ferramentas de marketing. A CMG, porém, não detalhava como sustentava essas alegações. Versões arquivadas do site mencionavam a criação de “personas de compradores” e a identificação de palavras-chave relevantes, além da colocação de um pixel de rastreamento nos sites de seus clientes.

Entendendo a Coleta de Dados

A CMG afirmava que não apenas ouvia, mas analisava essas conversas, criando listas de público-alvo para retargeting de anúncios em diversas plataformas. Essa explicação, no entanto, foi removida do site da empresa, que agora apenas menciona a capacidade de direcionar pessoas com base em suas conversas cotidianas.

Em resposta às preocupações, o Cox Media Group, proprietário da CMG, esclareceu que utiliza produtos de terceiros alimentados por conjuntos de dados de usuários de redes sociais e outras aplicações, convertidos em informações anonimizadas para anunciantes. Eles asseguraram não ter acesso direto a conversas ou a dados que não sejam agregados, anonimizados e criptografados.

Legalidade e Ética na Coleta de Dados

A CMG defendeu a legalidade de suas ações, alegando que os termos de uso de muitos aplicativos incluem cláusulas que permitem a “Escuta Ativa”. Alguns dispositivos solicitam permissão para gravação ou indicam quando um aplicativo está usando seu microfone, mas a CMG sugeriu que tinha acesso a conversas mesmo quando os usuários não pensavam que seus dispositivos estavam capturando suas palavras.

A Realidade das Reivindicações da CMG

Apesar das afirmações da CMG sobre a coleta de dados em “tempo real”, especialistas questionaram a viabilidade técnica disso, dado o poder computacional e de rede necessário, além das questões legais envolvidas.

O Panorama Atual da Privacidade

A questão da privacidade em dispositivos inteligentes é complexa. Casos como funcionários da Amazon usando câmeras Ring para espionar usuários e gravações privadas sendo enviadas inadvertidamente por dispositivos Echo levantaram debates sobre a coleta de dados por assistentes de voz e a definição clara do tipo de dados coletados.

Grandes empresas tecnológicas, como Google e Apple, enfrentam processos judiciais sobre o uso de dados de voz e reconhecimento facial. A Apple, por exemplo, nega que Siri grave conversas sem ser acionada e afirma trabalhar para evitar ativações inadvertidas.

Reflexão Final

O caso da CMG, apesar de suas alegações terem se mostrado exageradas, ressalta a importância de entender os acordos de usuário e as configurações de privacidade em dispositivos inteligentes. Revela também o quanto ainda estamos no escuro quanto à privacidade do consumidor e a confiança relacionada a dispositivos inteligentes pessoais.

Embora a capacidade da CMG de escutar conversas possa ter sido superestimada, o simples fato de suas alegações parecerem plausíveis diz muito sobre o estado nebuloso da privacidade do consumidor e a confiança quando se trata de dispositivos inteligentes pessoais. É uma razão suficiente para reconsiderar como e onde usamos produtos inteligentes equipados com microfone em nossas casas e nosso entendimento sobre acordos de usuário e configurações de privacidade.

Add a comment

Deixe um comentário