Estamos áridos de bons exemplos. Órfãos do que fazer. Perdidos em um oceano de incertezas.
Há um volume tão grande de “coisas no ar” que não é possível prestar atenção a tudo, e nem mesmo de forma profunda ao que se escolhe ver. Estamos saturados de novidades. Tanto que preferimos entregar nas mãos de outras pessoas a escolha do que fazer, do que assistir, do que comer. Precisamos de guias. Precisamos de gurus, de curadores, de algorítimos.
Benjamin Franklin costumava dizer que a melhor forma de educar uma pessoa é permitir que participe do processo; pois, para ele, apenas dizer faz o aluno esquecer, e o simples ato de ensinar pode fazê-lo lembrar. Mas, com um envolvimento real ele vai aprender de verdade.
O mundo que conhecíamos não existe mais.
Uma crise de saúde na China afeta o mundo. Uma crise econômica nos Estados Unidos afeta o mundo. Uma crise política na América do Sul afeta o mundo. Uma crise de petróleo no Oriente Médio afeta o mundo. Uma crise no Google afeta o mundo. Ou seja, não existem mais países, as fronteiras perderam o sentido. Estamos muito mais conectados do que imaginávamos.
Todos moramos em um lugar só, chamado de planeta Terra.
O Fórum Econômico Mundial iniciou um projeto que visa a transformar a forma como as pessoas desenvolvem suas habilidades. Até 2030 eles querem atingir mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo. É assustador perceber que quase tudo o que aprendemos até agora praticamente não terá muito valor nos próximos 10 anos. Essa iniciativa pretende impedir a ascensão da chamada geração inútil. Ou seja, aquelas pessoas que não terão espaço na sociedade, mesmo que tenham boa formação acadêmica. É possível reverter o resultado de uma educação global secular, que privilegia o conteúdo pronto a despeito do processo criativo?
A criação de robôs seguia a premissa de que é preciso maximizar os lucros. Robôs não falham, não faltam, trabalham incessantemente sem reclamar, não têm sindicato e não têm plano de aposentadoria. Um sonho para o ideal capitalista. Qualquer empreendedor deseja ganhar o máximo de dinheiro com o mínimo de custos. E o ser humano é uma variável muito cara dentro da estrutura de qualquer empresa. Claro que pessoas são o ativo mais valioso em qualquer empreendimento, mas pessoas causam problemas demais, porque pensam e falam demais. Criam ideias e compartilham com outras pessoas. Isso é uma benção e também uma maldição.
Desde que os sapiens caminham neste pálido planetinha azul, sempre houve uma guerra fria pelo controle de quem podia e quem não podia fazer alguma coisa. Por isso, as armas foram inventadas. Quem tivesse a ameaça mais letal controlava o outro. Hoje, usamos a informação como bombas atômicas, todos os dias, para criar perspectivas de tudo o que desejamos moldar como verdade. Não é à toa que as duas grandes guerras mundiais agilizaram os processos de interligação do mundo, fazendo a informação circular mais rápido, dando origem a mecanismos cada vez mais sofisticados; até chegarmos aos computadores pessoais, para enfim conectar todas as pessoas. Agora, nem precisamos de fios para começar uma revolução.
Somos o simulacro do que usamos.
Pensávamos e agíamos como nossas carruagens e espadas de aço, depois como nossos automóveis e jornais impressos, agora caminhamos de cabeça baixa, fixados em conteúdos que não param de escorrer de nossas telas brilhantes. A tecnologia da informação segue a trilha deixada pelos humanos que vieram antes de nós. Somos informação, desde o DNA, e produzimos informação incessantemente, pois essa é a nossa sina, nosso destino como animais condenados à linguagem. Nossa cultura é feita daquilo que somos capazes de sentir e descrever, somos reféns de sentimentos que precisamos colocar para fora, mesmo sem saber como. Humanos riscam e rabiscam a sua presença por onde passam. Deixam marcas e não aceitam a sua própria finitude. Fazem arte. Se não há um jeito, reinventam-se, mesmo que isso coloque suas vidas em perigo.
A ameça dos robôs que nos roubarão os empregos pode ser real.
Acredito que a educação falhou com muitas gerações no decorrer de todos esses anos. Endurecemos nossas mentes, e deixamos de nos conectar com as camadas mais profundas de nossas emoções. Nos tornamos robôs de carne e osso, programados para executar funções simples. Não conseguimos mais prestar atenção no mundo, na vida, na beleza de um relâmpago, no sol que nasce, na água que escorre em nosso rosto. Fomos programados para sentir apenas o necessário, e ignorar o resto. Perdemos a sensibilidade. Por isso precisamos de robôs, eles são mais rápidos e mais baratos. Se somos capazes de executar apenas atividades repetitivas, certamente uma máquina simples pode nos substituir. Assim, nos tornamos inúteis.
Há uma crise, sim, é verdade.
E isso nos coloca contra a parede. Estamos acuados como animais, amedrontados, desesperados, à espera de um milagre. O sapiens esteve sempre em busca da felicidade, e nesses anos todos acabou vendendo as suas chances por um preço muito barato. Perdeu-se. As máquinas estão aí para nos substituir porque escolhemos nos parecer com elas, mas não somos capazes de superar a sua capacidade mecânica. Se existe uma esperança, ela está no imenso e infinito buraco que há em todos nós, onde uma incrível linguagem de programação pode libertar esse frágil corpo biológico, e nos dar esperanças reais para viver melhor nesse nosso combalido mundinho.
Quando nossas necessidades forem simplificadas, não será mais preciso produzir tantas coisas. Aprenderemos a produzir nossos próprios alimentos, a educar nossos filhos para serem pessoas completas e conscientes, e não apenas profissionais competentes. Máquinas mecânicas serão úteis, mas não poderão nos ameaçar, pois nossos desejos e vontades terão sido reconfigurados.
Utopia? Talvez.
Tenho a certeza de que não seremos eternos nesse planeta, até porque ele não é eterno. Ou reaprendemos e ressignificamos a arte de ser humano ou o universo não dará conta da nossa capacidade destrutiva, se nossas máquinas um dia nos levarem para fora do sistema solar. Talvez sejamos destruídos por máquinas, mas há o risco de apertamos o botão e pedir “por favor”. Nossa imaginação é a maior força do universo, por isso precisamos aprender a lidar com esse poder.
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Excelente artigo!