A empatia é uma habilidade não absoluta. Por vezes vista como uma habilidade, onde alguns a tem, outros não, a capacidade de, grosso modo, “sentir o que o outro sente” também varia em função de quem é o “outro”.
Por exemplo, a preocupação com o bem estar do outro parece aumentar à medida que se reconhecem características biológicas, ou seja, se a criatura parece estar viva ou não.
Em um experimento informal realizado por uma ex-aluna do MIT, crianças de 7 e 8 anos demonstraram maior empatia por um Furby (dadas suas reações) do que por uma Barbie; quando colocavam o Furby de cabeça para baixo, sentiam que o estavam machucando, similar ao que sentiam quando replicavam o comportamento com um hamster.
Esta introdução, porém, serve pra contextualizar ou outro experimento realizado por pesquisadores japoneses na relação entre seres humanos e robôs humanoides.
Um Robovie-II, modelo robótico criado para auxiliar pessoas em suas compras, foi colocado para caminhar em um shopping da cidade de Osaka; sempre que alguém obstruía seu caminho, o robô educadamente pedia licença para passar. Caso o humano em questão não saísse do caminho, Robovie-II simplesmente tomava uma direção distinta.
Ao longo do estudo, os pesquisadores perceberam que crianças, em particular, exibiam comportamentos mais agressivos e afrontosos para com o pobre robozinho.
O estudo “Escaping from Children’s Abuse of Social Robots” conta que as interações negativas partiam de propositadamente obstruir a passagem do robô, chegando a ofensas e chutes. Tais abusos aconteciam, principalmente, quando as crianças se reuniam em grupos e quando não haviam adultos supervisionando-as.
Além de documentar tal comportamento, os cientistas também buscaram uma forma de mitigar a situação, ensinando o robô a adotar comportamentos que minimizassem as situações de abuso. Assim, desenharam um algoritmo anti-bullying para quando o robô identificasse situações de potencial abuso por parte destes capetinhas mini-humanos.
A probabilidade de abuso era calculada em função do tempo de interação do (pequeno) humano, a densidade de pessoas e a presença de alguém com mais de 1,40 metros de altura. Quando o risco aumentava, Robovie alterava seu rumo buscando pessoas mais altas (adultos), que usualmente interviam quando as crianças adotavam o comportamento abusivo.
Cenas fortes:
Curiosamente (e, de certa forma, perturbador), em uma publicação posterior (Why do children’s abuse robots?) resultado de entrevistas com estas crianças, 74% delas descreveram o robô como mais próximo a um ser humano do que (13%) mais próximo a uma máquina. Metade delas reconheceram que o comportamento abusivo poderia ter gerado estresse ou sofrimento para o robô.
Em resumo, não apenas reconheciam que o comportamento era abusivo / negativo, como também identificavam a vítima do abuso como um ser vivo.
As discussões a partir do experimento reforçam o pensamento de que empatia é uma habilidade aprendida (aprendível) conforme crescemos; e a interação com robôs sociais pode ser uma ferramenta para que diferentes possam coexistir.
Porque sabemos o que acontecerá se as máquinas começarem a reagir ;)
Muito bom JC, super interessante esse tópico e esse contraste entre máquina e algo tão essencialmente humano. E essa série do “fight back” é uma das coisas mais divertidas dos últimos tempos.